Nacional 125, morte e sangue na estrada


Em vez de andarem a apregoar medidas demagógicas e interesseiras no Código da Estrada, governantes e supostos especialistas deviam, por exemplo, pôr termo às portagens na Via do Infante para diminuir a mortandade na 125


1) Nos últimos dias sucedem-se anúncios de medidas governamentais supostamente destinadas a diminuir a sinistralidade nas estradas. Os governantes e técnicos do Estado alegadamente especializados em segurança rodoviária, acolitados por privados que têm a ganhar com novos negócios e vendas de material, anunciaram o regresso de cartas de condução para motos até 125 de cilindrada (negócio), a inspeção obrigatória das que tenham mais de 250 cc (negócio, mas justificável), a compra de helicópteros (negócio), drones (negócio) e radares (negócio), que normalmente até estão avariados. Está ainda em cima da mesa uma limitação a 30 km/h em grande parte de certas cidades, o que é uma baboseira demagógica tão grande que só pode ter por trás um negócio de multas para explorar o desgraçado do cidadão motorizado. A juntar a isto tudo, o tal desgraçado vê-se também alvo de perseguição frenética de empresas municipais que gerem o estacionamento. O paradigma é a EMEL, em Lisboa, que agora até tem uma brigada de motos melhores e mais recentes do que as da polícia para perseguir carros que estão estacionados (!?). Melhor que isto, só nos Monty Python.

Enquanto inventam estas perseguições para obter receitas, as tais autoridades nada dizem e pouco fazem para pôr fim à mortandade que diariamente acontece em algumas estradas nacionais, nomeadamente a tenebrosa Nacional 125, que percorre o Algarve. É raro o dia em que dali não chegue notícia de um acidente grave com feridos ou mortos.
Ora, é consabido que o problema da 125 só pode ser resolvido, e ainda assim parcialmente, de duas maneiras: ou proibindo todas as ultrapassagens (o que daria engarrafamentos jamais vistos à escala planetária) ou reabrindo o acesso gratuito à A-22 (Via do Infante), que está pejada de portagens eletrónicas caríssimas, apesar do seu pavimento estar altamente degradado, contribuindo para inúmeros acidentes e incidentes naquela autoestrada. E cabe lembrar que, quando Cavaco Silva mandou fazer esta obra estruturante, havia o compromisso de nunca ter portagens. António Costa prometeu olhar para o problema. Mas não cumpriu, e os parceiros da geringonça consentem. Tornou-se, por inação, corresponsável direto pelo drama que ocorre na 125, trazendo tragédias a muitas famílias que custam milhares de milhões de euros em mortes, tratamentos e apoios sociais por inatividade. Ao todo, muito mais do que custaria acabar com as portagens da A-22, dotada do tal sistema de portagens que a maioria dos estrangeiros nem sequer percebe que existe. Ridículo.

Em Portugal não há verdadeiramente uma política de prevenção rodoviária. Há uns impulsos pontuais mais ou menos bem-intencionados e há sobretudo uma caça ao negócio e à multa, além de um desrespeito pela verdadeira segurança. Porque se pode fumar nos carros? Porque se fala agora da indecorosa hipótese de bloquear o funcionamento dos telemóveis em certas estradas, quando há sistemas de alta voz? Para provar que a segurança não é prioridade e que só estamos na caça ao tesouro, basta recordar que nas revisões das concessões das Scut e autoestradas, o que o Estado, com este ou com o governo anterior, tem feito para diminuir os seus encargos é aligeirar as obrigações de manutenção dos concessionários, ou seja, aumentar a degradação e os riscos de acidente. Quem assim governa tem culpa da situação, por muito que se saiba que há entre nós um abundante número de condutores irresponsáveis. Mas isso não pode esconder incompetências públicas, certos negócios e assaltos ao bolso dos cidadãos por parte do Estado ou de interesses privados que os governos facultam nesta área.

2) Causou perplexidade em meios da justiça e da política a circunstância de Marques Mendes ter recentemente apontado o nome de Júlio Pereira, ex–diretor dos serviços de segurança, e do juiz João Silva Miguel, diretor do Centro de Estudos Judiciais, como possíveis sucessores de Joana Marques Vidal na Procuradoria-Geral da República. Isto porque, dizem, fragilizou simultaneamente a atual PGR, que o comentador acha dever manter-se, e os eventuais sucessores citados.

3) A propósito de justiça e dos muitos disparates da nossa, que investiga a torto e a direito por tudo e por nada, mas não consegue levar Sócrates ou Salgado a julgamento, vale a pena citar como paradigma do ridículo a investigação a Centeno por supostamente ter beneficiado o filho do presidente do Benfica num IMI, um imposto municipal que não depende diretamente do nosso “Ronaldo das finanças”. Depois da tentativa de levar Manuel Vicente a tribunal por desconfiar da justiça de Angola, que a nossa reconhece nas suas relações e acordos, era só o que faltava. Patético.

4) Morreu Edmundo Pedro. Desapareceu um dos maiores opositores ao regime de Salazar e um defensor ativo da liberdade pós-25 de Abril, face ao avanço de um novo extremismo comunista e de extrema-esquerda. Preso inúmeras vezes, esteve dez anos no Tarrafal com o pai e o irmão Germano. Honremos a memória de quem tanto sofreu para que tenhamos uma democracia.

Jornalista


Nacional 125, morte e sangue na estrada


Em vez de andarem a apregoar medidas demagógicas e interesseiras no Código da Estrada, governantes e supostos especialistas deviam, por exemplo, pôr termo às portagens na Via do Infante para diminuir a mortandade na 125


1) Nos últimos dias sucedem-se anúncios de medidas governamentais supostamente destinadas a diminuir a sinistralidade nas estradas. Os governantes e técnicos do Estado alegadamente especializados em segurança rodoviária, acolitados por privados que têm a ganhar com novos negócios e vendas de material, anunciaram o regresso de cartas de condução para motos até 125 de cilindrada (negócio), a inspeção obrigatória das que tenham mais de 250 cc (negócio, mas justificável), a compra de helicópteros (negócio), drones (negócio) e radares (negócio), que normalmente até estão avariados. Está ainda em cima da mesa uma limitação a 30 km/h em grande parte de certas cidades, o que é uma baboseira demagógica tão grande que só pode ter por trás um negócio de multas para explorar o desgraçado do cidadão motorizado. A juntar a isto tudo, o tal desgraçado vê-se também alvo de perseguição frenética de empresas municipais que gerem o estacionamento. O paradigma é a EMEL, em Lisboa, que agora até tem uma brigada de motos melhores e mais recentes do que as da polícia para perseguir carros que estão estacionados (!?). Melhor que isto, só nos Monty Python.

Enquanto inventam estas perseguições para obter receitas, as tais autoridades nada dizem e pouco fazem para pôr fim à mortandade que diariamente acontece em algumas estradas nacionais, nomeadamente a tenebrosa Nacional 125, que percorre o Algarve. É raro o dia em que dali não chegue notícia de um acidente grave com feridos ou mortos.
Ora, é consabido que o problema da 125 só pode ser resolvido, e ainda assim parcialmente, de duas maneiras: ou proibindo todas as ultrapassagens (o que daria engarrafamentos jamais vistos à escala planetária) ou reabrindo o acesso gratuito à A-22 (Via do Infante), que está pejada de portagens eletrónicas caríssimas, apesar do seu pavimento estar altamente degradado, contribuindo para inúmeros acidentes e incidentes naquela autoestrada. E cabe lembrar que, quando Cavaco Silva mandou fazer esta obra estruturante, havia o compromisso de nunca ter portagens. António Costa prometeu olhar para o problema. Mas não cumpriu, e os parceiros da geringonça consentem. Tornou-se, por inação, corresponsável direto pelo drama que ocorre na 125, trazendo tragédias a muitas famílias que custam milhares de milhões de euros em mortes, tratamentos e apoios sociais por inatividade. Ao todo, muito mais do que custaria acabar com as portagens da A-22, dotada do tal sistema de portagens que a maioria dos estrangeiros nem sequer percebe que existe. Ridículo.

Em Portugal não há verdadeiramente uma política de prevenção rodoviária. Há uns impulsos pontuais mais ou menos bem-intencionados e há sobretudo uma caça ao negócio e à multa, além de um desrespeito pela verdadeira segurança. Porque se pode fumar nos carros? Porque se fala agora da indecorosa hipótese de bloquear o funcionamento dos telemóveis em certas estradas, quando há sistemas de alta voz? Para provar que a segurança não é prioridade e que só estamos na caça ao tesouro, basta recordar que nas revisões das concessões das Scut e autoestradas, o que o Estado, com este ou com o governo anterior, tem feito para diminuir os seus encargos é aligeirar as obrigações de manutenção dos concessionários, ou seja, aumentar a degradação e os riscos de acidente. Quem assim governa tem culpa da situação, por muito que se saiba que há entre nós um abundante número de condutores irresponsáveis. Mas isso não pode esconder incompetências públicas, certos negócios e assaltos ao bolso dos cidadãos por parte do Estado ou de interesses privados que os governos facultam nesta área.

2) Causou perplexidade em meios da justiça e da política a circunstância de Marques Mendes ter recentemente apontado o nome de Júlio Pereira, ex–diretor dos serviços de segurança, e do juiz João Silva Miguel, diretor do Centro de Estudos Judiciais, como possíveis sucessores de Joana Marques Vidal na Procuradoria-Geral da República. Isto porque, dizem, fragilizou simultaneamente a atual PGR, que o comentador acha dever manter-se, e os eventuais sucessores citados.

3) A propósito de justiça e dos muitos disparates da nossa, que investiga a torto e a direito por tudo e por nada, mas não consegue levar Sócrates ou Salgado a julgamento, vale a pena citar como paradigma do ridículo a investigação a Centeno por supostamente ter beneficiado o filho do presidente do Benfica num IMI, um imposto municipal que não depende diretamente do nosso “Ronaldo das finanças”. Depois da tentativa de levar Manuel Vicente a tribunal por desconfiar da justiça de Angola, que a nossa reconhece nas suas relações e acordos, era só o que faltava. Patético.

4) Morreu Edmundo Pedro. Desapareceu um dos maiores opositores ao regime de Salazar e um defensor ativo da liberdade pós-25 de Abril, face ao avanço de um novo extremismo comunista e de extrema-esquerda. Preso inúmeras vezes, esteve dez anos no Tarrafal com o pai e o irmão Germano. Honremos a memória de quem tanto sofreu para que tenhamos uma democracia.

Jornalista