Em 1934, Adolf Hitler dirigia-se ao povo alemão com a grande notícia de que seria possível ao cidadão obter a um preço acessível um Volkswagen, prático e de grande qualidade, e, posteriormente, de que o modelo de produção ultrapassaria quer em número quer em qualidade os carros norte-americanos de Henry Ford. A guerra acabou e Hitler, felizmente, desapareceu, mas não o espírito da empresa, conseguindo apesar de tudo, e recentemente, o título de maior fabricante de carros no mundo.
Como é do conhecimento público, em 2015, a marca é acusada de uma das maiores fraudes comerciais de que há registo, com cerca de 11 milhões de carros, produzidos entre 2009 e 2015, a circular mundialmente, mas que, neste caso, emitem cerca de 40 vezes mais óxido de nitrogénio que o reconhecido nos testes – isto porque a mentira tem perna curta, ou seja, os resultados foram adulterados a partir de uma modificação de software que alterava temporariamente estas emissões aquando dos testes para venda.
Em Portugal, apesar de se ter amplo conhecimento destes alegados crimes contra a mãe natureza e contra a humanidade, a discussão que se tem é outra. Prende–se com a agenda política da CGTP e do PCP e os direitos dos trabalhadores da Autoeuropa. Como escreveu João Miguel Tavares no “Público” (25/01/2018), “(…) como se eles estivessem obrigados a beijar os pés alemães pelos benefícios que lhes estão a oferecer por passarem a ter de laborar ao sábado”.
Pergunta-se: onde andam “Os Verdes”? Citando um ex–primeiro-ministro, “verdes por fora, vermelhos por dentro.” A questão que se põe é mais uma questão de moralidade da parte do próprio Estado português: se a luta essencial será mesmo a partir de quem pagará a creche aos filhos dos trabalhadores da referida fábrica, ou se Portugal, como país “amigo do ambiente”, está bem com o facto de ter produzido continuamente veículos tóxicos. A resposta é fácil. Para o Estado, a resposta está em produzir o menos alarido possível, que a Volkswagen não leve a fábrica para Marrocos ou para a República Checa e que o PIB não diminua a olhos vistos. O Presidente da República também já veio apoiar este ponto de vista, avisando que não se deve correr “riscos de aventuras” para com a Autoeuropa.
Resumindo e concluindo, percebemos que estamos submissos ao capital e ambientalmente cegos a partir do momento em que sucessivos governos piscam o olho à prospeção de hidrocarbonetos ao largo da costa algarvia e fechando os olhos, desta feita, a questões delicadíssimas como esta alegada fraude na produção automóvel.
Escreve à terça-feira