Quero começar por afirmar que concordo que os animais sejam protegidos e que sou completamente a favor de que as pessoas que os maltratam sofram sanções pesadas.
No entanto, começo a achar que alguns partidos e associações pensam mais nos animais do que nos seres humanos.
Não me esqueço do caso do cão que matou um bebé, em janeiro de 2013, e que acabou por ser entregue a uma associação que lhe mudou o nome de Zico para Mandela. Na altura, a dirigente da associação que o recebeu, segundo o “Público”, ficou “eufórica com a notícia” e afirmou: “Vamos chamá-lo Mandela porque, tal como o líder sul-africano, este cão também é um símbolo de liberdade. Esteve preso sete meses sem saber porquê, tal como Mandela esteve preso mais de duas décadas.”
A comunicação social deu mais notícias sobre o cão do que sobre o bebé que tinha sido morto.
Agora, três partidos, PAN, Verdes e Bloco de Esquerda, legislam sobre atropelamento de animais selvagens, prevendo, entre outros meios, instalação de sinalização e redutores de velocidade, passagens aéreas e subterrâneas, pontes, cercas e refletores.
Não me manifesto contra este tipo de medidas. O que acho é que as prioridades estão completamente subvertidas.
Vale a pena recordar os números de atropelamentos de pessoas nos últimos anos. A GNR registou, entre 2015 e 2016, em Portugal continental, 3618 atropelamentos de peões, uma média de cinco por dia.
O Ministério da Administração Interna registou 400 atropelamentos com fuga entre janeiro e novembro de 2017. Dos 400 incidentes, cinco fizeram vítimas mortais.
Voltando às comparações, o estatuto jurídico dos animais, recentemente aprovado, prevê, por exemplo, uma pena de prisão até três anos para quem roube um animal alheio.
Um homem que atropelou mortalmente um jovem e se pôs em fuga, no Seixal, há cerca de dois anos, acabou por ser condenado a um ano e nove meses de prisão, com pena suspensa.
Sem mais comentários.
Jornalista