Gostava de ser fluidez. Gostava de conseguir gerir melhor as emoções – e talvez isso passe por parar de dizer “gerir as emoções” porque não as posso “gerir” como se fossem um hotel, negociar saídas e entradas, pessoas, datas, automatizando os meus sentimentos. Mas queria, pelo menos, que as emoções coubessem em mim. Anseio por saber estar feliz e pronto, estar triste e pronto, sem isso me dar um trabalho gigante. Espero, um dia, saber sentir as coisas simplesmente, sem grandes desafios, sem ficar cansada só porque “hoje estou tão contente!”.
Não sei se isto te acontece (diz-me que sim para acreditar que não estou sozinha no mundo), nem se passa com a idade, mas comigo é recorrente: sempre que sinto muito fico exausta. Não tem de me acontecer nada de novo ou extraordinário (então quando é assim, expludo…), mas basta estar feliz, ver os meus pais, brincar com os meus sobrinhos ou ouvir o Tiago a colocar a chave na porta para entrar em casa e saber que ele chegou, para que o êxtase, a gratidão, a felicidade me atropelem.
Como se o meu corpo fosse demasiado pequeno para carregar tanto amor.
Estava eu nas minhas explosões emocionais, feliz e grata e feliz e aos saltos, quase a sufocar por sentir tanta esperança, tanta vontade, tanto querer, quando o Tiago me diz:
“Se sentes que a felicidade não cabe em ti é porque estás bloqueada, tensa, como se quisesses aprisionar as coisas boas que te acontecem, com medo de as perder. E a prisão nunca é uma coisa boa. Liberta. Deixa fluir.”
Fez-me sentido. Faz muito sentido as nossas conversas (é tão inteligente o meu menino!) e mesmo que, inicialmente, tenha alguma resistência a ouvir, a verdade é que sei que faço isto. E se aprisiono então limito e se limito, não expando. E não posso permitir uma coisa destas. Não posso permitir ser exatamente o oposto daquilo que defendo – afinal sou uma prisão para mim mesma?
Ter a noção disto tudo é importante sim mas conseguir mudar estes hábitos emocionais já é outra batalha. Sou intensa desde que me conheço. Sempre quis muito, amei muito, desejei muito, fui muito. E isso é uma coisa boa? É, é, claro que é, desde que não me bloqueie, desde que estar muito feliz não me deixe exausta e com dores nas costas porque é tão intenso sentir – canso-me a mim mesma, porra.
Estar feliz deveria ser só bom e eu ainda estou a aprender. A aprender a saborear, não por ter medo de perder o momento ou a pessoa que amo mas só por ser belo aquele momento. Só por existir. Ainda não consigo ser uma junção perfeita de mim mesma, ainda não junto as peças e resulto na equação perfeita. Ainda ando aqui, aos bocados, aos poucos, a tentar ligar todos os músculos, todas as emoções, todas as crenças, todos os credos, numa Marine só. Não é fácil, pois não?
Ninguém nos ensina estas coisas ou ensinam mas só quando aparecemos desesperados. Ninguém nos mostra, em pequenos, como lidar com o nosso pequeno mundo em erupção e dizem-nos que nos portámos mal porque gritámos muito e nos portámos bem porque estivemos sempre caladinhos, sem interromper. Ninguém nos explica que às vezes não faz mal gritar, que estar calado nem sempre é bom, que sentir tudo ao mesmo tempo é normal e que talvez, na maioria das vezes, só temos de aprender a respirar. A respirar e a assimilar o que de bom e de mau nos acontece. Às vezes só temos de aprender a absorver e os sentimentos acabarão por escorrer pelo sangue como fazem as células e pela alma, como faz o amor, espalhando-se pelo nosso todo. Como a felicidade que deve entrar, fazer o que tem a fazer e seguir viagem, sem estar presa a quem tanto a quer.
Estar feliz deveria ser só bom e eu ainda estou a aprender.
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