Quando Catherine Deneuve e as restantes signatárias do manifesto defendem a liberdade de “importunar” usam uma palavra grosseira que pode parecer que estão a defender aquilo que na realidade não estão: o direito dos homens a perseguir as mulheres. Não é disso que trata o manifesto que é, indiscutivelmente, um ato de repulsa perante uma espécie de “neomacarthismo” que passou da denúncia de crimes como violações e assédio sexual, na sequência dos casos Weinstein ou Kevin Spacey (neste caso, assédio homossexual), para… tretas.
É extraordinário como à boleia da denúncia de crimes – que deverão ser julgados em tribunais – estamos a assistir a um chorrilho de parvoíces, da qual a mais recente é a acusação de uma rapariga que tem o pseudónimo de “Grace” ao comediante Aziz Ansari. “Grace” teve um encontro supostamente “romântico” com Ansari. Estava entusiasmada com o jantar. Depois, foi para o apartamento dele. Aziz começou a “importuná-la”, “Grace” ficou desconfortável e pediu-lhe “para ir devagar” – vejam bem o que significa “ir devagar”. “Grace” não queria fazer sexo, ou então não o queria fazer da forma como se estava a passar, Aziz queria. Em vez de chamar um táxi e ir embora, e se fosse necessário ter recorrido ao bom e velho “estaladão”, continuou a “sofrer” os avanços indesejados. Mais tarde, “processou os acontecimentos”, pensou bem no assunto e concluiu que tinha sido vítima de assédio sexual, e veio denunciar Aziz como agressor, sob anonimato.
Num texto notável na “The Atlantic”, chamado “A humilhação de Aziz Ansari”, Caitlin Flanagan, que foi adolescente nos anos 70, afirma que, relativamente à sua geração, as mulheres aparecem como frágeis. Se uma mulher não queria, dizia-o expressamente e ia embora. O grave desta caça às bruxas é que tudo é metido no mesmo saco e já não se distingue um potencial crime de uma “cena que correu mal”. E isso é estúpido, mau para as mulheres, mau para os homens e péssimo para a liberdade sexual, que é um valor feminista.