Dietas e erros: qual das coisas a pior?


Vivemos em dieta, evitamos os abraços como se fossem calorias, temos vergonha dos afetos e dizemos que gostamos mas às escondidas


Dietas e erros – duas coisas na vida que se pudesses evitarias, certo? Certo. Pois, mas não é possível que não passes por lá, pelo menos uma vez na vida. Sou péssima em ambas mas pior na dieta. Quanto aos erros, já não são o meu maior pesadelo. Apesar de ter sido sempre demasiado exigente comigo mesma, com a idade aprendi a acalmar-me. Já não me martirizo porque podia ter feito melhor, maior ou porque não fiz enquanto a novela não acabasse. Vou fazendo, com o meu tempo ou sem tempo mas evitando aquele auto flagelo habitual de achar que nunca presto ou que presto menos que os outros. Deixei-me disso.

Os erros são a única forma de sabermos que estamos a fazer alguma coisa ou que não estamos a fazer nada e isso também é importante saber. De facto, é um cliché mas a única forma de aprendermos é a errar, a corrigir, a tentar. Algum dia haveremos de acertar no alvo. Lembro-me quando conheci um psicopata na faculdade que me disse uma coisa do género – “Já me declarei tantas vezes que um dia ela há de gostar de mim”. Claro que isso foi suficiente para não dar confiança ao maluco mas, mesmo assim, retive uma dica importante para a minha vida – tenta, tenta até conseguires. Exceto seguir pessoas.

Como te disse, aflige-me mais a dieta do que o erro. Sobretudo, angustia-me conhecer as dietas feitas às emoções: há quem as conte e divida em mil pedacinhos porque não pode sentir tudo duma vez, porque guarda metade do amor num tupperware para mais logo ou congela, que é pior. Isto assusta-me. Assusta-me o maluco que não para de se declarar à amada mas não tenho menos medo da pessoa que não diz o que sente. Que guarda e engole o que pensa, o que deseja, que não verbaliza, não expõe, não ri nem berra nunca.

Temo que estejamos atrofiados em relação ao amor. Já não o sabemos exprimir, já não lhe detetamos a cor. Vivemos em dieta, evitamos os abraços como se fossem calorias, temos vergonha dos afetos e dizemos que gostamos mas às escondidas, sem ninguém a ver, como todas aquelas vezes em que devoramos os últimos chocolates em segredo.

Parece mesmo que não é só a dieta paleolítica que está na moda. Esta também está. Não se faz com sumos verdes nem se mostra no instragram mas vive inserida na nossa vida, nas nossas coisas, na nossa forma de pensar. Controlamos as palavras calorosas, temos medo de ser pirosos ou mal interpretados. Não doamos, não damos o suficiente. Deixamos tudo por dizer. Depois, quando somos velhos, salvam-nos os netos, que nos obrigam a sentir, a abraçar, a brincar! Mas já o fazemos cansados, meio acabados e damos o que nunca tivemos tempo para dar. Quando somos velhos queremos sempre recuperar do erro crasso que foi não ter dado.

Dietas e erros – duas coisas na vida que se pudesses evitarias, certo? Certo. Mas talvez o maior erro seja poupar no amor, na gentileza, no mimo. “Não lhe dês tantos beijos que ainda a estragas” e continuamos a achar o amor um exagero. Mas se do erro vier a aprendizagem, se por termos errado, tenhamos vontade de recuperar o tempo perdido mesmo que esse tempo seja agora curto e escasso … não posso dizer mal do erro, sobretudo se esse erro nos levar a algum lado, nem que seja ao afeto esquecido.

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