O padre Gonçalo usa em abono da sua tese um argumento comparativo, dizendo que o maçon e o católico não podem coexistir da mesma forma que o republicano e o monárquico são incompatíveis, tudo isto porque o maçon não aceitaria os dogmas da Igreja Católica, do mesmo modo que um “cristão comunista é uma contradição e um escândalo”.
Usa igualmente, e sempre que polemiza, o argumento de que é doutor da Igreja e também em Direito, presume-se que Canónico. Não discutiremos a interpretação do direito canónico que proíbe a filiação do católico em organizações que “maquinem” contra a Santa Madre Igreja. Sublinhamos apenas que o padre Gonçalo não usou este argumento contra a maçonaria. Diremos apenas que, quando Maria fugiu com José, ou foi a Belém, ou Cristo entrou em Jerusalém, preferiram sempre a companhia de um burro à dos doutores da época.
Ainda no que respeita ao católico livre-pensador, chamamos em nossa defesa um texto do mesmo padre Gonçalo de 9/12/2017, no “Observador”, onde explica que fé e ciência não se contrapõem. Do católico e do maçon, mutatis mutandis, poder-se-á dizer o mesmo. No que toca à essência da questão, não existe nenhuma contradição entre ser maçon e católico, ou muçulmano, ateu, agnóstico ou do Benfica.
Ser livre-pensador não impede que se aceitem dogmas, impede apenas que a coluna vertebral se dobre perante a servidão humana. Aliás, só haveria contradição se a maçonaria fosse uma religião, que não é. Percebe-se que republicano e monárquico não possam coexistir no mesmo momento e no mesmo homem, porque são sistemas que concorrem ao mesmo objeto.
A maçonaria é uma escola iniciática onde se pode aprender a fraternidade entre os homens. A mesma fraternidade que permite aos camelos entrarem no reino dos céus. Talvez não a todos!
Escreve à terça-feira