Demissões em série no Instituto Camões

Demissões em série no Instituto Camões


Nomeação de Faro Ramos para a presidência do Camões causou «mal-estar», e críticos dizem que esta se deveu à amizade com o ministro Santos Silva e contestam as suas qualificações.


Quatro demissões desde que o diplomata de carreira Luís Faro Ramos assumiu posse como novo presidente do Camões, Instituto da Cooperação e da Língua, a 3 de novembro, deixam claro que algo não está bem no pequeno enclave.

A escolha foi do ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, que  a justificou então afirmando que fazia sentido ter um embaixador na liderança do Camões que, após a fusão com o Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento (IPAD), passou a integrar a política de cooperação, dado que os diplomatas, por força das suas obrigações, estão «muito treinados para articular transversalmente diferentes áreas». Santos Silva disse ainda que esta escolha constituía também «um sinal forte de que a promoção da língua e da cultura são eixos centrais da política externa portuguesa». Mas a  nomeação caiu mal na equipa de gestão do Instituto, e Maria Irene Paredes (vogal do Conselho Diretivo) foi a primeira a bater com a porta, seguindo-se Márcia Pinheiro (diretora dos serviços de Planeamento e Gestão), Carla Graça (chefe da divisão de Planeamento e Recursos Humanos) e Tânia Lemos (chefe da divisão de Apoio Jurídico e Contencioso).

Ao Jornal Económico, fontes dentro do Camões garantem que o «mal-estar» deverá levar a novas demissões nas próximas semanas, num sinal claro de protesto contra uma nomeação que, segundo entendem, se explica pela «relação de amizade» entre o ministro e Faro Ramos, a quem não reconhecem nem «experiência de gestão» nem «currículo nas áreas de actuação» do instituto.

Faro Ramos contesta esta ideia, e nota que desempenhou uma função de gestão da maior responsabilidade entre 2010 e 2012 quando foi director-geral de Política de Defesa Nacional, acrescentando que nesse quadro foi responsável direc to por uma área essencial da cooperação portuguesa, que é a cooperação técnico-militar. É curioso que também para esse cargo tenha sido nomeado precisamente por Santos Silva, então nas funções de ministro da Defesa Nacional (no segundo Governo liderado por José Sócrates.

Santos Silva insiste que o «actual presidente do Camões tem estatuto, qualificação e experiência para sê-lo, como vai demonstrar», garantindo que «essa é a razão da sua escolha, nenhuma outra.» Tanto o ministro como Faro Ramos desvalorizam as demissões em série. Mas de acordo com o Jornal Económico «nos corredores do Camões, nos meios diplomáticos e até em alguns sectores do PS (desagradados com a substituição de Ana Paula Laborinho, militante socialista, por um outsider), comenta-se em surdina que a ‘relação de amizade’ entre ambos se sobrepõs a critérios meritocráticos».