Catalunha. Rajoy não quer falar com Puigdemont

Catalunha. Rajoy não quer falar com Puigdemont


Apesar das eleições convocadas sob intervenção de Madrid, o independentismo voltou a ganhar. Mas o PP recusa dialogar com os independentistas.


Aanálise dos resultados dá para todos os gostos. O presidente do governo espanhol, Mariano Rajoy, afirma que os  independentistas têm descido em número de deputados, apesar de manterem a maioria absoluta. Quando lhe perguntaram se falaria com Carles Puigdemont, caso este seja nomeado presidente do governo catalão, Rajoy respondeu ríspido: «com quem eu deveria falar é com Inés Arrimadas que venceu as eleições». Há dúvidas sobre quem ganhou o 21 de dezembro: os independentistas, que apesar da repressão, mantiveram a maioria absoluta de deputados, com o maior número de votos de sempre; ou o Ciudadanos, que conseguiu subir 12 deputados, e tornar-se no primeiro partido espanholista mais votado numas eleições parlamentares catalãs. 

Neste momento, porque o artigo 155 ainda está em vigor, quem governa a Catalunha é a vice-presidente do governo de Madrid, Soraya Sáenz de Santamaría, cujo partido (PP) obteve 4,24% ontem. 

Puigdemont, a partir do seu autoexílio na Bélgica, desafiou o governo de Madrid, propondo a Rajoy uma reunião em Bruxelas, onde não há uma ordem de detenção contra ele, para «abrir uma etapa presidida por soluções políticas». Puigdemont lembra a Madrid que é obrigada a reconhecer a vitória dos independentistas nas eleições: «Há mais votos a favor da independência do que a 1 de outubro [data do referendo]. Foi ratificado o que fizemos».

O líder do Ciudadanos, Albert Rivera, por seu lado, declarou ao canal La Sexta que recusa qualquer conversa com Puigdemont: «Não queremos falar com um fugitivo da justiça que devia estar na cadeia».

O mesmo disse Rajoy, em conferênica de imprensa, em resposta sobre se é possível deixar cair as acusações contra os independentistas, afirmou, com uma memória seletiva que parece ignorar o que fizeram nas centenas de processos de corrupção envolvendo  o PP, «são os políticos que têm que se submeter à justiça e não o contrário». 

A situação na Catalunha é complexa e não parece que o governo de Rajoy pretenda dialogar. Ainda no dia das eleições, a Guarda Civil entregou ao juiz do Supremo Tribunal Pablo Llarena um documento defendendo que as manifestações da Diada (dia da independência da Catalunha) são «locais onde se forma o gérmen do ódio à Espanha», pedindo também que se acuse o antigo jogador e treinador do Barcelona e agora do Manchester City, Pep Guardiola, de cumplicidade nos crimes de «rebelião» e «sedição», por insistir em usar um laço amarelo (símbolo da libertação dos presos catalães) durante os jogos da Premier League.

Já na sexta-feira, Llarena ampliou a investigação pelo «crime de rebelião» – que, recorde-se, pela legislação espanhola, implica violência armada – ao ex-presidente do governo catalão Artur Mas; à secretária-geral da CUP, Anna Gabriel, e à número dois da lista da ERC, Marta Rovira. E a lista não fica por aqui, somando-se também a coordenadora geral do PDeCAT (o partido de Puigdemont), Marta Pascal, a presidente do grupo parlamentar da CUP, Mireia Boya, e a presidente da Associação dos Municípios para a Independência, Neus Lloveras.

Para trás parecem ter ficado os resultados eleitorais da votação dos mais de 80% de catalães que foram às urnas. Uma participação recorde que deu pela primeira vez na história das eleições regionais catalãs a vitória a um partido espanholista. A sua líder na Catalunha, Inés Arrimadas, terá um grupo parlamentar de 37 deputados. A lista de Carlos Puigdemont terá 34 eleitos no parlamento e a Esquerda Republicana da Catalunha irá para esta legislatura com 32 deputados. Estes dois partidos repetiram o resultado das eleições de 2015, quando foram coligados no Juntos pelo Sim. Somados aos quatro da CUP, garantem uma maioria absoluta de 70 lugares, num parlamento de 135 deputados. O PP passou de 11 deputados para três. E para mostrar que a democracia tem sentido de humor, tanto a CUP como o PP, porque não atingiram o limiar para terem grupo parlamentar, vão ter que conviver nas mesmas instalações, no grupo misto. Será uma experiência e peras, se conseguirem manter-se vivos durante a legislatura, passarão a ser casos de estudo para outros conflitos violentos, como entre israelitas e palestinianos.