Catalunha na corda bamba

Catalunha na corda bamba


A reta final da campanha vai ser disputada ao sprint. Há sondagens que dão que nem independentistas, nem espanholistas vão poder governar sozinhos.


A última sondagem publicada pelo site El Nacional, nesta sexta-feira, dá uma situação de quase empate técnico entre os espanholistas do Ciudadanos, com 31 a 32 deputados, e a ERC, do vice-presidente, atualmente preso, Oriol Junqueras, com 30 a 32 deputados. Em terceiro lugar surge a coligação dirigida por Carles Puigdemont (JxC), com 28 a 30 eleitos. O outro partido independentista, a CUP, poderia igualar o número de representantes obtidos em 2015, 10 deputados; quanto aos socialistas (PSC) conseguiriam 19 a 21 deputados; a área do Podemos obteria oito a 10 eleitos; e o PP ficaria em último com seis a sete deputados. 

Uma situação que leva os editorialistas do diário espanhol El Mundo a apontar a possibilidade de a crise política aberta na Catalunha não ser resolvida com as eleições de 21 de dezembro: «Nem a patente irracionalidade da rota separatista, nem o seu esgotamento e o fracasso das suas promessas, com consequências para a economia, nem a justificada prisão dos líderes do golpe pela gravidade dos delitos imputados, nem sequer a obra bufa em Bruxelas de Puigdemont e dos seus acólitos na Bélgica, [mudou a situação]. Nada rasgou a fotografia paralisada de dois blocos quase simétricos que parecem levar a Catalunha ao bloqueio político».        

Apesar desta aparente manutenção da situação, são quatro as grandes novidades que podem surgir das eleições catalães no próximo dia 21 de dezembro. 

A saber: 
1. Pela primeira vez um partido anticatalanista (Ciudadanos) pode ser o partido mais votado na Catalunha;

2. A ERC, embora sendo o partido independentista mais votado, não vai conseguir o seu objetivo de ultrapassar largamente o partido de Carles Puigdemont e assim acabar irreversivelmente com o domínio histórico dos herdeiros da Convergência e União;

3. É bastante provável que o novo Governo catalão seja minoritário no Parlamento: embora haja sondagens que deem a maioria absoluta,  a partir dos 68 deputados, à soma dos três partidos independentistas (ERC,  JxC e CUP), o cenário mais provável é que os dois blocos, independentista e espanholista, precisem dos deputados da área do Podemos para ter a maioria dos deputados. O CeC (coligação dos partidários de Ada Colau, presidente da Câmara de Barcelona, com o Podemos local) nunca fará Governo com Ciudadanos e PP, a ERC já declarou que não apoiará um Governo que tenha o PSC. Resta como possibilidade para um Governo maioritário, um Executivo com o apoio dos independentistas junto com o Podemos, o que causaria muitos problemas à formação de Pablo Iglesias a nível eleitoral no resto do Estado espanhol;

4. O PP continuará a ser um partido cada vez mais residual no panorama catalão: de 11 deputados que tinha no Parlamento de 2015, vão sobrar seis ou sete. Embora a Catalunha sempre tenha sido um território onde o PP nunca teve uma votação importante, o significativo crescimento do Ciudadanos nas eleições catalãs e nas sondagens nacionais podem indiciar, a prazo, que a direita socialmente maioritária em Espanha, vá paulatinamente substituindo o PP pelo Ciudadanos, como substituiu anteriormente a UCD pelo PP. 

Estas alterações vão depender que nestes últimos dias de campanha não haja nenhum acontecimento que provoque algum sobressalto. Falava-se na possibilidade de Puigdemont aparecer no último comício do JxC, para ser preso no decorrer dessa sessão, a dois dias das eleições, tendo a polícia espanhola reforçado a vigilância nas suas fronteiras. Ou que haja mudanças no nível de afluência às urnas. Caso se confirme uma afluência recorde acima dos 85%, como prevê a empresa de sondagens de que é dona a Prisa, proprietária do El País, é muito provável que o Ciudadanos possa ficar em primeiro lugar e os independentistas não consigam atingir a maioria absoluta. Caso isso não suceda, a Catalunha pode acordar novamente com uma maioria parlamentar independentista.

Nesse caso, a dúvida é se o Governo de Madrid vai reconhecer os resultados ou continuar a impor o artigo 155, que suspende a autonomia das instituições de Governo catalães.

Para já, o Governo de Rajoy está a aproveitar o artigo 155 para extinguir organismos governamentais da Catalunha e associações com participação pública e privada como a Diplocat, que coordenava uma série de iniciativas para a divulgação da região no estrangeiro e para agilizar mecanismos de diplomacia económica. Na última sexta-feira, cerca de 200 trabalhadores da Generalitat catalã concentraram-se em protesto pela extinção de vários organismos governamentais catalães pelo Governo espanhol. Nessa concentração esteve presente o antigo ministro das Relações Externas, Raül Romeva, que abandonou segunda-feira passada a prisão d’Extremera, depois de 32 dias de detenção. 

Recentemente, o Governo espanhol deu também ordem para a administração catalã não recorrer aos tribunais para contestar uma ordem que retira determinadas obras de arte de museus da região e as entrega a entidades fora da Catalunha.  Foi o caso das chamadas peças de Sijena, que foram entregues a Aragão por ordem judicial. O ministro da Educação, Cultura e Desporto do Governo de Madrid, Méndes de Vigo, mandou anular um recurso apresentado pelos serviços jurídicos da Generalitat da Catalunha, para anular essa entrega, justificando: «O recurso foi feito sem o meu conhecimento e sem a minha autorização».

O  Conselho de Ministros do Governo de Rajoy liquidou um programa fiscal do Governo catalão, que contava com a participação de mais de 200 entidades sociais.
No meio do sprint, o grupo de hackers Anonymous ameaça entrar a pé juntos nestas eleições e diz divulgará a 19 de dezembro dados sobre o financiamento do Ciudadanos e sobre os ‘dinheiros’ do seu líder nacional, Albert Rivera.