No primeiro entram todos os que, imediatamente projetados para uma galáxia muito, muito distante, desfiam num decibel acima do desejável o dia em que, há muito, muito tempo, criancinhas ou mais graúdos, levados pelo irmão mais velho ou com o grupo de amigos, iniciaram a relação com o universo de George Lucas.
Normalmente segue-se uma pormenorizada descrição dos episódios que preferem, dos planetas mais bem conseguidos, da dicotomia humana que envolve estes filmes de ficção científica, de sabres de luz, robôs – pois, que antes da Sophia já cá andava o C3PO –, de bandos de rebeldes, o Império, a Galáxia, e por aí diante. Um rol de conceitos e ideias que põe a cabeça a andar à roda do segundo grupo – já lá vamos – e que rapidamente termina em discussão caso esteja outro “starwarólico” na sala.
No segundo grupo, no qual me incluo (ou me incluía?), cabem aqueles que não sabem qual é a diferença entre Star Wars e Star Trek, têm ideia de que o Chewbacca é um bicho e pouco mais, que a Força, bem, a Força precisa é de ginásio, e Jedis são apenas um nome que aparece de quando em vez mas que significa, virtualmente, nada.
Tudo mudou há umas semanas, quando um grupo de amigos marcou uma ida ao cinema para ver o novo filme da saga que hoje estreia e eu, farta de não poder discutir, pus aos ombros a tarefa de me versar na matéria.
Escolhi a ordem em que aparecem os capítulos, não pela que foram feitos. Experiência finda e partilhada entre colegas jornalistas, apercebi-me logo de que tinha cometido o meu primeiro erro. Parece que há toda uma discussão em torno da metodologia de ver Star Wars e há até quem tenha a sua ordem ideal. “Mas começas a ler os livros de uma trilogia pelo fim?”, perguntaram–me. Seguiu-se uma troca de palavras sobre analepses e prolepses e eu, já com cinco filmes no bucho, continuei como tinha começado.
Considerações gerais para o lado mau: a cena em que a Padmé morre é especialmente sofrível de tão má, percebi logo que o puto Anakin tinha issues – o que quer dizer que a personagem talvez não tenha sido tão bem construída assim – e, depois de ver tudo de seguida, parece-me que há dois Yodas.
Talvez seja o cliché dos clichés, mas do que gostei mesmo foi do episódio V – o segundo, portanto. Embora já conhecesse o dito de trás para a frente, dei por mim a repetir, e espero que só mentalmente: “Luke, I’m your father.” E da música em geral, “The Imperial March”, o tema do Darth Vader, é especialmente incrível.
Relativamente aos filmes mais recentes, parece-me que os maus da fita não nos chegam à espinha como os primeiros – Snoke é até um nome bem querido, o que não faz sentido, além de me lembrar o Snake de Harry Potter. Palpatine ou Darth Insidious cumpriam bem melhor o requisito da malevolência. Mas adorei a intensidade da Rey e o Han Solo de Harrison Ford. que parece ter retomado o papel no sítio onde o deixou, vai para quatro décadas.
Este domingo, lá rumarei a um cinema com o tal grupo de amigos. Não vou chorar quando o tema inicial explodir no ecrã, como já me garantiram que aconteceria caso me tornasse fã. Mas, pelo menos, já sei que a Força é uma simetria. Isso e que os ewoks são uns grandes fofinhos.
Jornalista