Iniciativa Liberal


No Portugal pós-geringonça, fará falta à direita portuguesa mais um ou dois partidos com assento parlamentar


É com entusiasmo e principalmente com expetativa que vejo nascer em Portugal o novo partido Iniciativa Liberal. Antes do mais, um registo de interesses: não faço parte nem prevejo vir a fazer parte deste partido. Conheço duas ou três pessoas que estão na génese deste movimento, pelas quais tenho amizade, respeito e admiração, mas que fiz questão de não consultar quando decidi escrever esta crónica, precisamente para que a minha opinião não seja toldada à partida.

Quase todos os anos nascem partidos em Portugal e a grande maioria, mais cedo ou mais tarde, tende a revelar-se um enorme fiasco. Os motivos são quase sempre os mesmos: falta de financiamento; falta de profissionalismo na comunicação; falta de disponibilidade temporal dos dirigentes; e um blackout total por parte da comunicação social, principalmente das televisões, que são quem, afinal de contas, pode fazer mexer a agulha eleitoral.

No entanto, vejo alguns aspetos na Iniciativa Liberal que, à partida, parecem fazer-me acreditar que este é um projeto estruturado e com pernas para andar: tem uma importante filiação internacional no ALDE, que é a terceira maior família política da UE; a sua comunicação é cuidada; têm uma forte aposta no digital; e, acima de tudo, vêm ocupar um espaço que está vago no panorama político--ideológico português.

Centremo-nos neste último ponto. Na última legislatura, ser liberal era, para o bem e para o mal, apoiar o governo da coligação. Por um lado, tínhamos um PSD ideologicamente liberal e com algum pendor reformista (que não teve coragem de ir mais longe); por outro lado, tínhamos o CDS de Paulo Portas, onde cabiam todas e mais algumas ideologias não marxistas e onde se incluía, obviamente, o liberalismo. 

O PSD que sairá do próximo congresso, quer ganhe Santana ou Rio, estará longe de ser um partido liberal. Se ganhar o primeiro, teremos um partido de centro-direita, tendencialmente liberal na economia e conservador nos costumes. Se ganhar Rio, teremos um PSD ideologicamente colado ao PS.

O CDS de Cristas é hoje também bastante diferente do CDS de Portas. Basta olharmos com atenção para a aproximação que a ala mais conservadora – que era oposição a Portas – fez à “nova” líder do partido e o peso que a mesma tem ganho dentro das estruturas. Este novo CDS parece-me hoje mais ao centro economicamente e mais à direita do ponto de vista dos costumes, o que irá fazer com que, por um lado, consiga ganhar votos ao PSD, mas, por outro lado, com que perca votos dos eleitores tendencialmente mais liberais. 

A questão que realmente importa é: e para onde irão os votos do eleitorado liberal? Para onde irá o voto do pequeno empresário ou trabalhador por conta de outrem que, por um lado, não quer um Estado-paizinho onde trabalham quase 700 mil pessoas, mas, por outro lado, também não quer um Estado-mãezinha que proíbe os seus cidadãos adultos de consumirem drogas leves? Estes votos podem precisamente cair na Iniciativa Liberal. 

No Portugal pós-geringonça fará falta à direita portuguesa mais um ou dois partidos com assento parlamentar, porque poderão vir a ser esses mesmos partidos a ter a capacidade de criarem novas soluções governativas – mesmo num cenário em que seja o PS o partido mais votado. No fundo, a IL poderá vir a oferecer à direita a oportunidade de se criarem novas geringonças. Aguardemos para ver no que dá. Como disse, com entusiasmo e expetativa. 

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Iniciativa Liberal


No Portugal pós-geringonça, fará falta à direita portuguesa mais um ou dois partidos com assento parlamentar


É com entusiasmo e principalmente com expetativa que vejo nascer em Portugal o novo partido Iniciativa Liberal. Antes do mais, um registo de interesses: não faço parte nem prevejo vir a fazer parte deste partido. Conheço duas ou três pessoas que estão na génese deste movimento, pelas quais tenho amizade, respeito e admiração, mas que fiz questão de não consultar quando decidi escrever esta crónica, precisamente para que a minha opinião não seja toldada à partida.

Quase todos os anos nascem partidos em Portugal e a grande maioria, mais cedo ou mais tarde, tende a revelar-se um enorme fiasco. Os motivos são quase sempre os mesmos: falta de financiamento; falta de profissionalismo na comunicação; falta de disponibilidade temporal dos dirigentes; e um blackout total por parte da comunicação social, principalmente das televisões, que são quem, afinal de contas, pode fazer mexer a agulha eleitoral.

No entanto, vejo alguns aspetos na Iniciativa Liberal que, à partida, parecem fazer-me acreditar que este é um projeto estruturado e com pernas para andar: tem uma importante filiação internacional no ALDE, que é a terceira maior família política da UE; a sua comunicação é cuidada; têm uma forte aposta no digital; e, acima de tudo, vêm ocupar um espaço que está vago no panorama político--ideológico português.

Centremo-nos neste último ponto. Na última legislatura, ser liberal era, para o bem e para o mal, apoiar o governo da coligação. Por um lado, tínhamos um PSD ideologicamente liberal e com algum pendor reformista (que não teve coragem de ir mais longe); por outro lado, tínhamos o CDS de Paulo Portas, onde cabiam todas e mais algumas ideologias não marxistas e onde se incluía, obviamente, o liberalismo. 

O PSD que sairá do próximo congresso, quer ganhe Santana ou Rio, estará longe de ser um partido liberal. Se ganhar o primeiro, teremos um partido de centro-direita, tendencialmente liberal na economia e conservador nos costumes. Se ganhar Rio, teremos um PSD ideologicamente colado ao PS.

O CDS de Cristas é hoje também bastante diferente do CDS de Portas. Basta olharmos com atenção para a aproximação que a ala mais conservadora – que era oposição a Portas – fez à “nova” líder do partido e o peso que a mesma tem ganho dentro das estruturas. Este novo CDS parece-me hoje mais ao centro economicamente e mais à direita do ponto de vista dos costumes, o que irá fazer com que, por um lado, consiga ganhar votos ao PSD, mas, por outro lado, com que perca votos dos eleitores tendencialmente mais liberais. 

A questão que realmente importa é: e para onde irão os votos do eleitorado liberal? Para onde irá o voto do pequeno empresário ou trabalhador por conta de outrem que, por um lado, não quer um Estado-paizinho onde trabalham quase 700 mil pessoas, mas, por outro lado, também não quer um Estado-mãezinha que proíbe os seus cidadãos adultos de consumirem drogas leves? Estes votos podem precisamente cair na Iniciativa Liberal. 

No Portugal pós-geringonça fará falta à direita portuguesa mais um ou dois partidos com assento parlamentar, porque poderão vir a ser esses mesmos partidos a ter a capacidade de criarem novas soluções governativas – mesmo num cenário em que seja o PS o partido mais votado. No fundo, a IL poderá vir a oferecer à direita a oportunidade de se criarem novas geringonças. Aguardemos para ver no que dá. Como disse, com entusiasmo e expetativa. 

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