Londres admite não ter analisado impacto económico do Brexit por setores

Londres admite não ter analisado impacto económico do Brexit por setores


David Davis reconheceu que não se estudaram as repercussões da saída do Reino Unido da União Europeia


Numa sessão da comissão do Brexit na Câmara dos Comuns de Westminster, realizada ontem, o ministro responsável pelas negociações relativas ao abandono dos britânicos do clube europeu confirmou uma, duas, três ou as vezes que foram necessárias que o governo não realizou qualquer estudo sobre o impacto do Brexit nos vários setores da economia britânica.

Depois de meses e meses com poucas razões para sorrir no que aos avanços do problemático processo de saída do Reino Unido da União Europeia diz respeito, Theresa May até tinha motivos para estar confiante no início desta semana. Na chegada a Bruxelas, na segunda-feira, para tentar concluir a primeira fase das negociações rumo ao Brexit, a primeira-ministra tinha no bolso uma proposta que aparentava agradar a todas as partes e, com isso, pretendia dar um novo impulso às conversas. Puro engano.

Não só o acordo falhou à última hora – os aliados do Partido Democrático Unionista da Irlanda do Norte recusaram que Belfast tivesse um estatuto distinto de Londres no que diz respeito a fronteiras – como o governo voltou a meter os pés pelas mãos no regresso a casa.

Repetidamente questionado pelo trabalhista e presidente da comissão Hilary Benn sobre a realização de estudos de previsão económica por parte do governo, em setores tão distintos como o financeiro, aeroespacial ou automóvel, e para o caso de se falhar um acordo com a UE antes de março de 2019 – a data oficial de saída -, David Davis respondeu negativamente e com tal franqueza que arrancou gargalhadas de incredulidade dos restantes deputados.

“A resposta vai continuar a ser negativa para todos os setores que referiu. Não existe uma avaliação sistemática sobre o impacto [do Brexit]”, respondeu Davis, citado pelo “Guardian”, à enésima tentativa de Benn.

O caso, já de si pouco abonatório para o governo liderado por May, ganha contornos ainda mais pitorescos tendo em conta que o próprio executivo anunciara anteriormente – segundo a contabilização da BBC, pelo menos em outubro e dezembro do ano passado e em fevereiro e junho deste ano – ter encomendado estudos do género para mais de 50 setores. Davis disse agora que esses estudos não são previsões de impacto, apenas levantamentos sobre o estado atual das várias indústrias britânicas em termos de rendimentos, capital e empregabilidade.

Jeremy Corbyn, líder dos trabalhistas, catalogou a confissão de Davis como confirmação da “balbúrdia” que vai no governo, ao passo que os nacionalistas escoceses (SNP) acusaram a equipa de May de continuar a alimentar uma “farsa permanente”. 

MI5 evita atentado contra May 

O dia de ontem no Reino Unido ficou igualmente marcado pela revelação, feita pelos serviços secretos britânicos, de que foi desmantelado um atentado terrorista contra a primeira-ministra, Theresa May.

Segundo o “Guardian”, o MI5 – a agência antiterrorista britânica – culminou uma investigação de semanas com a detenção de dois jovens, no final do mês passado, que tinham como objetivo entrar no número 10 de Downing Street para detonar um engenho explosivo e matar a líder do governo britânico.

O diário revela ainda que esta terá sido a nona tentativa de atentado descoberta e neutralizada pelas autoridades desde março deste ano, data do ataque terrorista em Westminster.