Como em geral acontece nos grandes jogos, Jonas Gonçalves Oliveira, conhecido por Jonas, não marcou no clássico da passada sexta-feira. O “velho” avançado do Benfica parece, assim, mais talhado para as “degolas dos inocentes”, ou seja, para marcar às equipas pequenas. Sucede que, agora, a questão assume maior gravidade.
Por que razão Jonas foi dispensado pelo Valência há três épocas, quando tinha ainda 30 anos, o que para um avançado não é muito? Porque, como já escrevi neste espaço, o clube espanhol jogava num sistema 4x3x3, em que Jonas não podia funcionar. A atuar como avançado-centro, entalado entre os possantes defesas centrais adversários, Jonas não tinha nem velocidade nem poder físico para se impor. Era presa fácil – e por isso deixou, primeiro, de ser titular, e depois foi colocado na lista das dispensas.
No Benfica, Jonas ressuscitou porque a equipa jogava noutro sistema: um 4x4x2, que lhe permitia libertar-se da vigilância dos centrais, tendo ao lado um companheiro que os distraía para ele poder aparecer desmarcado e aplicar o seu remate certeiro com os pés ou a cabeça. Jonas não é um jogador para correr com a bola, aguentar as cargas dos defesas e chutar à baliza. Jonas é um jogador para receber a bola no espaço vinda dos companheiros e encaminhá-la venenosamente para a baliza adversária.
Como “ajudante” de Jonas no Benfica, jogou com grande eficácia um avançado rápido e forte no confronto físico: Lima.
Quando Rui Vitória chegou, quis – como também escrevi – implantar o sistema 4x3x3, mas os jogadores não deixaram. Jonas era, naturalmente, um dos contestatários. Assim, o treinador teve de manter o 4x4x2 – em que Jonas, depois da saída de Lima, teve a companhia de um “touro”, Mitroglou, ou de outro jogador também possante: Raúl Jiménez. Sobretudo o primeiro era o complemento ideal do goleador brasileiro.
Sucede que, nesta época, Rui Vitória está empenhado em voltar ao 4x3x3 – e o problema que Jonas viveu no Valência regressou. De indiscutível, passou a tolerado. Não foi titular em alguns jogos da Champions, sentando-se no banco de suplentes – onde devia estar a ferver por dentro. E nos jogos grandes em que é titular não marca, como aconteceu sexta-feira.
Jonas vai ser o próximo problema no Benfica. Tendo adquirido um estatuto de exceção, não vai aceitar tranquilamente ser preterido. Mas também não é natural que Rui Vitória volte atrás nas suas ideias só para satisfazer os caprichos do veterano avançado.
Para não criar problemas – e porque Vitória é um homem de consensos e não de ruturas –, o Benfica pode passar a jogar em dois sistemas: o 4x3x3 quando joga com os grandes ou fora de casa, e o 4x4x2 quando joga em casa com os fracos. Aí, Jonas tornar-se-á mesmo um avançado para os jogos pequenos.