O governo comemorou o seu segundo aniversário com uma sessão de perguntas feitas por um painel de 50 indivíduos, selecionados para constituírem uma amostra representativa da sociedade.
As críticas não se fizeram esperar e incidiram especialmente no custo da operação, cerca de 80 mil euros.
“Propaganda paga pelos contribuintes”, acusaram CDS e PSD. “Iniciativa criticável”, criticou suavemente o PCP, assim como o BE.
Para o chefe do governo, tratou-se apenas de conhecer a opinião dos portugueses.
Do meu ponto de vista, o custo da operação é o menos criticável. Tratando-se de um painel representativo da população portuguesa, composto por 50 pessoas recrutadas para fazer perguntas, é lógico que haveria custos envolvidos.
Nem seria criticável o facto de o governo querer fazer avaliações periódicas ao seu desempenho, tentando encontrar uma base sociológica credível.
O que é criticável é o facto de a operação ser pública, transmitida em direto por uma televisão.
A partir desse momento, quando a avaliação se transformou numa espécie de conferência de imprensa sem jornalistas, com cobertura televisiva em direto, a operação dita de avaliação virou ação de propaganda.
Os focus groups destinam-se normalmente a avaliar produtos, e os participantes respondem a perguntas, dão opinião sobre os seus diferentes aspetos, avaliam-nos. São feitos à porta fechada, porque interessam apenas aos alvos da análise.
Neste caso, tratou-se de um painel para fazer perguntas que, ao tornar-se público, se transformou numa espécie de propaganda group – mais uma invenção deste governo que, desde a sua origem, se tem notabilizado por uma inesgotável criatividade.
No entanto, no que respeita a programas de televisão, a criatividade falhou. Tratou-se de uma verdadeira seca, com um cenário composto por ministros sonolentos.
A oposição subscreverá certamente esta frase de McLuhan:
“Hoje, o tirano governa não pelo cassetete e pelo punho; mas, disfarçado de pesquisador de mercado, conduz o seu rebanho pelos caminhos da utilidade e do conforto.”
Quanto aos parceiros, PCP e BE, talvez prefiram a de Péricles:
“O que eu temo não é a estratégia do inimigo, mas os nossos erros.”
Jornalista