Como crianças malcriadas


No futebol, são os mais jovens que, além de fazerem o espetáculo, dão os melhores exemplos – envergonhando dirigentes e diretores de comunicação que se comportam como crianças malcriadas


O futebol jogava-se antes dentro das quatro linhas. Mas hoje, com a multiplicação dos programas televisivos, “joga-se” sobretudo fora. Mal um jogo acaba, começam os protestos por erros de arbitragem – não por parte dos “prejudicados”, mas de clubes terceiros: o Sporting protesta lances de um jogo do Benfica e vice-versa.

Há alturas em que sete canais televisivos estão a dar a conferência de imprensa de um treinador. E os comentários a um jogo ocupam três ou quatro vezes mais tempo do que o próprio jogo. Mas o pior são as guerras de palavras. O presidente de um grande clube chama “idiota” a um seu homólogo, depois de este ter dito que o treinador e o presidente desse clube não se falavam. Uma lástima!

E o que dizer dos chamados “diretores de comunicação”? O do Sporting, que também se chama Saraiva e, por sinal, pertenceu à direção de um jornal – o “DN” –, sendo um jornalista político talentoso, presta-se a escrever textos que nem para editoriais de tabloide rasca serviriam.

E o do Porto, chamado Francisco J. Marques (hoje já ninguém usa iniciais no nome…), lança escândalos atrás de escândalos na TV do clube, como o caso dos emails. E se é verdade que eles não provam nada, como os benfiquistas têm dito, sugerem muito. E os vouchers oferecidos aos árbitros? Sendo também certo que nenhum árbitro se deixa corromper por dois ou três almoços, por melhores que sejam, a cortesia pode condicioná-los…

Entretanto, um dirigente da federação, ex-jornalista, foi acusado de passar informação confidencial a um funcionário do Benfica, Pedro Guerra.

O Benfica, que até há pouco era um clube acima das polémicas, ficou manchado por estes casos. E o FC Porto, que era visto como o mais suspeito, pelo caso Apito Dourado, faz hoje figura de vítima.

Pinto da Costa, que oferecia “fruta” aos árbitros, passa por grand seigneur. E até deixou de aparecer neste lavar de roupa suja, mandando para a frente o dito Francisco J. Marques.

Ao invés, L. F. Vieira e Bruno de Carvalho vão-se desgastando na troca de insultos. Depois de um tempo em que não respondia a Bruno, Vieira não resistiu e entrou na dança – e isso só o prejudica. Quanto a Bruno, podia ser olhado hoje com respeito por ter chegado tão jovem à presidência de um grande clube, e deita tudo a perder com as polémicas rasteiras em que se envolve e a linguagem que utiliza.

No meio de tudo isto, os jogadores são os mais ajuizados. Embora sendo miúdos – alguns com menos de 20 anos –, não vão na onda. Imagine–se o que fariam se fossem atrás dos péssimos exemplos dos seus dirigentes… Matavam-se e esfolavam-se em campo. Mas não. Respeitam os adversários e quem lhes paga, comportam–se à altura.

No futebol, são os mais jovens que, além de fazerem o espetáculo, dão os melhores exemplos – envergonhando dirigentes e diretores de comunicação que se comportam como crianças malcriadas.