Seguíamos o exemplo do Reino Unido e passávamos a ter como governante uma figura mediática de um reality show. Foi o que aconteceu com Penny Mordaunt, deputada conservadora que foi nomeada ministra da Internacionalização e, em tempos, foi concorrente de um reality show. Portanto, não seria inédito e poderia resolver muitos problemas. Não tenho nada contra, antes pelo contrário, acho que a competência das pessoas não se mede pelo que fazem ou não fazem na vida pessoal. É um sinal de progressismo e não tenho dúvidas de que, nos próximos anos, vai passar a ser mais comum do que se possa pensar. É que vamos começar a ser (mais) confrontados com mais de uma década de exposição aos social media. Algo que antes ficava registado nas memórias, em rolos fotográficos ou em tabloides de qualidade duvidosa, está hoje espalhado nas redes sociais. É um fenómeno que está no início, de que apenas agora vamos dando conta e abordando, mas que irá, claramente, ter cada vez mais impacto nas nossas vidas ao longo dos próximos anos.
E das duas uma: ou os putativos políticos do futuro começam desde cedo a controlar a sua exposição nas redes sociais (o que é incontrolável), ou é melhor habituarem-se à ideia de ter um Zé Maria como ministro.
Já tivemos um Tino de Rans mas que não conseguiu ser ministeriável, não obstante o mediatismo; enveredou pelo mundo artístico e acabou por se perder um valor do que poderá ser o político do futuro. As exposições mediáticas que os média convencionais desenterram das redes sociais têm alimentado muita notícia. Ao seu dispor têm milhões de dados guardados nos servidores do Facebook (desde 2004), YouTube (desde 2005), Twitter (desde 2006) ou Instagram (desde 2010) e que mais não são do que retalhos das nossas vidas pessoais. É o lado não falado das redes sociais. Já muito se escreveu sobre o impacto que têm na vida social as traições, os casamentos acabados, o bullying e por aí fora. Só tenuemente temos visto as redes sociais salpicarem a classe política. Vamos ter de criar um novo mind-set para nos habituarmos à ideia porque, nos próximos anos, será o prato do dia. Por exemplo, esta história do Panteão, do jantar da Web Summit e da recente controvérsia de António Costa ter apadrinhado no passado um evento no mesmo local seria matéria da competência do ministro Zé Maria. Estou certo de que a coisa se dissipava sem este alarido todo e não era preciso estar a desenterrar-se um evento e fazer-se uma colagem ao então Presidente da Câmara. Ora, se tivéssemos um Zé Maria como ministro dos Faits Divers íamo-nos habituando à ideia de que nesta nova era das redes sociais só são válidos os factos que tiverem sido postados, twitados ou filmados e colocados numa rede social. Deixava de haver controvérsias estéreis e poupávamos uns bons milhares em terrorismo jornalístico. Acho sinceramente que nos maçávamos menos e que a poluição jornalística, como a que temos agora em torno do jantar no Panteão, diminuía significativamente. Até lá temos de viver com estes episódios inócuos, e vão ver que ainda desenterram para aí uma rave no Panteão denominada de “Eusébio, Amália & Friends” e que um diretor-geral ou um secretário de Estado apoiou.
Escreve à quinta-feira