O secretário-geral das Nações Unidas discursou esta quinta-feira sobre a ameaça terrorista global procurando chamar a atenção ao terrorismo fora do ocidente e fazer regressar o tema à agenda do órgão, argumentando em Londres que o respeito pelos direitos humanos é a chave para conseguir quebrar “o ciclo vicioso” do extremismo.
“As sociedades que operem com respeito pelos direitos humanos e que ofereçam oportunidades económicas a todos são a mais nítida e importante alternativa para fugir às estratégias de recrutamento de grupos terroristas”, disse Guterres na Universidade de Soas, no Reino Unido, citado pelo jornal “Guardian”.
O discurso de António Guterres desta quinta-feira é uma imagem de como o secretário-geral da ONU está na margem oposta à do presidente americano no tema do combate ao terrorismo. O ex-primeiro-ministro português não se referiu diretamente ao terrorismo de inspiração islamista, por exemplo, como Donald Trump insiste em fazer.
.@AntónioGuterres quer mais cooperação da comunidade internacional para combater o terrorismo. Em discurso na @SOASUNIVERSITY of London, Guterres disse que os direitos humanos são fundamentais nessa luta. pic.twitter.com/AH5Vjdb8LW
— Nações Unidas (@NacoesUnidas) November 16, 2017
“Embora a atenção tenda a concentrar-se no terrorismo no ocidente, não devemos nunca esquecer que a vasta maioria dos ataques terroristas acontecem em países ainda em desenvolvimento”, sublinhou Guterres, defendendo mais investimento no combate à pobreza e na Educação em África, por exemplo.
“Em 2016, quase três quartos de todas as mortes causadas por terrorismo aconteceram em apenas cinco países: Iraque, Afeganistão, Síria, Nigéria e Somália”, disse Guterres, falando de dois países que o presidente americano incluiu na sua política de proibição de viagens para os Estados Unidos – Nigéria e Somália.
“A falta de educação e a pobreza são fatores que contribuem para a radicalização e para o extremismo violento”, explicou Guterres, referindo-se a estudos sobre o terrorismo em África. Porém, argumentou, o contributo final para a radicalização vem frequentemente dos próprios governos autoritários.
“Noventa e três por cento dos ataques terroristas ocorridos entre 1989 e 2014 ocorreram em países com altos níveis de mortes extrajudiciais, tortura e condenações sem julgamentos”, disse António Guterres. "As violações da lei humanitária internacional estão ligadas aos conflitos prolongados e à radicalização”, explicou.