1) A expressão é utilizada no jargão do “futebolês”, essa língua extraordinária feita de expressões insólitas que se vão multiplicando, como, por exemplo, “transição ofensiva”, “segundo poste”, “bola à flor da relva” (esta última já em claro desuso). Mas, além do futebol, no qual “correr atrás do prejuízo” significa que uma equipa deixou o adversário adiantar-se e tenta reparar o mal, a metáfora poderia aplicar-se a muito do que tem acontecido em Portugal nos últimos anos, meses e até dias, por ausência ou falhas do Estado e de quem o dirige nas mais diversas posições.
Veja-se o caso da seca extrema que nos assola há muitos meses e de que agora se fala finalmente. Vejam-se as medidas tomadas em cima da hora para alertar a população para a poupança de água como se o fenómeno fosse repentino. E sobretudo tente-se recordar quantos ilustres autarcas, dirigentes político-partidários ou governantes falaram da seca durante a campanha e a pré-campanha autárquica. O discurso de alerta foi rigorosamente nulo. Salvo uma ou outra exceção que porventura tenha existido, sem que dela houvesse eco.
E os casos sucederam-se e sucedem-se em catadupa. Há uns anos foram bancos a cair sucessivamente como se não tivesse havido alertas, nem que fossem as denúncias em jornais como o i. Depois foram os escândalos financeiros sucessivos, do tipo Ongoing e quejandos. Na saúde está em curso a repetição de um surto de legionela, em situação agravada porque se desenvolveu em contexto hospitalar público e com peripécias sinistras ocorridas em velórios. Houve os casos dos fogos de junho e de outubro. Foi o estranho e “pantomínico” assalto de Tancos. Antes do verão ocorreram afogamentos evitáveis porque, inexplicavelmente, a época de banhos não estava aberta, apesar do calor abrasador. Mais recentemente deu-se o caso Urban Beach, mostrando a barbárie de algumas noites. O fim de semana passado brindou-nos com a caricata situação de servirem um jantar no Panteão Nacional, coisa que pelos vistos aconteceu regularmente até que alguém pôs imagens nas redes sociais e gerou um pandemónio. Foi ver num repente toda a classe política a perorar sobre o assunto, com António Costa a indignar-se, sabendo-se depois que, afinal, ele próprio já tinha patrocinado um jantar em Santa Engrácia quando era presidente da Câmara de Lisboa. Notável e triste exemplo de falta de seriedade política.
A sensação que se retira de tudo isto é a de uma classe política errática e precipitada, de um Estado trapalhão e ineficaz, acrescido de uma falta de sentido de Estado que se tenta atamancar, fazendo logo uma série de leis à pressão e tomando medidas avulso. Em Portugal sempre se funcionou ou com legislação ao pormenor, vanguardista e nunca executada, ou com leis feitas em cima dos acontecimentos para se ficar bem na fotografia. O problema não é de hoje nem de ontem. Não tem a ver com um governo em concreto, mas com uma situação recorrente. É, portanto, natural que os cidadãos se sintam desprotegidos, abandonados, descrentes e acabem por se dar por felizes quando verificam que não é à porta deles que bate a sinistra falha do Estado que é, no fundo, a soma das falhas de cada um de nós.
2) A campanha interna do PSD vai seguindo a bom ritmo com encontros de militantes e, pontualmente, com entrevistas ou declarações dos dois candidatos. Rui Rio tenta impor-se pelo suposto perfil de um potencial primeiro-ministro, com base sobretudo no seu percurso profissional e no seu desempenho na Câmara do Porto, que deu origem ao desenvolvimento atual da Invicta. Já Santana Lopes fala mais diretamente ao coração do que ele chama PPD/PSD, tentando mostrar que mudou para muito melhor. Centrado fundamentalmente no sentimento do partido e dos seus militantes mais ortodoxos, Santana tem procurado incomodar Rio com alguns dos supostos apoios, os quais não cita, mas que se percebe terem Pacheco Pereira em primeira linha, uma vez que o historiador e comentador não é propriamente a pessoa mais amada no PSD, dadas as posições divergentes que muitas vezes tomou, em clara oposição às lideranças e aos governos sociais-democratas. Santana multiplica–se, por isso, em proclamações contra aquilo a que chama “facadas nas costas”. Curiosamente, em março de 2011, foi o próprio Santana que, em entrevista ao i, afirmava já estar “a formar um movimento político” que iria ser apresentado em breve e no qual já estavam a trabalhar mais de 200 pessoas, podendo o movimento transformar-se eventualmente em partido. E dizia também: “Defendo que um governo de concertação nacional devia procurar o PCP.” Quanto a Passos Coelho, definia-o como não sendo um líder carismático. Achava até Rui Rio melhor do que Passos para governar, porque governar o Porto era quase como governar uma região, segundo o próprio Santana.
Jornalista