No seu livro “Dicionário do Século XXI”, escrito em 1998, Jacques Atali prevê, no capítulo dedicado às nações:
“No futuro, a divisão das nações acelerar-se-á devido à iniciativa das minorias, que recusarão os ditames das maiorias. Enquanto, no séc. XX, os pobres se libertam dos ricos através da descolonização, no séc. XXI são os ricos que se desembaraçarão dos pobres, recusando-se a serem solidários com eles ou sendo-o apenas com grupos étnicos muito estritamente definidos.”
É verdade que Atali pensava fundamentalmente na África e na Ásia, mas esta previsão levou-me a pensar no caso do desejo independentista manifestado expressamente por parte substancial dos catalães, em pleno séc. XXI.
As nações derivam, obviamente, do espírito dos seus povos.
E o que define o ser humano do séc. XXI? Um espírito individualista que as novas tecnologias vieram acentuar. Virámo-nos progressivamente para dentro, autoalimentados por inúmeras fontes de informação e de tecnologias que nos permitem viver totalmente isolados, sem que as nossas necessidades básicas – e não só – deixem de ser satisfeitas.
A solidariedade é, no dia-a-dia, algo que ignoramos.
É por isso que acredito que a tendência futura dos países é a da sua desagregação onde existirem povos que se identificam como nação. Basta o primeiro exemplo ser bem-sucedido e outros se seguirão.
A Escócia, a Flandres, o norte de Itália ou a Córsega são apenas alguns desses casos, na Europa.
Ao mesmo tempo, ainda no caso europeu, essa prevalência do egoísmo sobre o espírito solidário está bem patente no Brexit.
Virados para o nosso umbigo, somos a componente individual desse espírito isolacionista que objetivamente nos enfraquece.
Só um perigo exterior, como o terrorismo internacional, leva a que se olhe com mais cautela para estes desejos separatistas.
É nestas alturas que se sente a falta de políticos com visão e grandeza, capazes de congregar vontades e desafiar um futuro que se afigura, no mínimo, preocupante.
Jornalista