Sem se deixar afetar pela solenidade do espaço e sem a reverência com que muitos presidentes trataram a Sala Oval, nomeadamente o seu antecessor, Barack Obama, Donald Trump transformou o seu gabinete da Casa Branca num ambiente mais próximo do seu escritório no 26.o andar da Trump Tower.
Num dia normal em que o presidente está no gabinete, entra e sai muita gente, há conselheiros sentados nos sofás, visitas ilustres que procuram uma foto com o chefe de Estado ou, simplesmente, espreitar o espaço da Sala Oval que quase todos conhecemos de cor, mas poucos tiveram ocasião de ver in loco.
Trump gosta de caminhar acompanhado de gente, uma trupe de conselheiros e assistentes seguem-lhe os passos. O presidente aprecia ouvidos atentos, confia nos seus julgamentos e não se importa com as consequências das suas afirmações – numa dor de cabeça para conselheiros e membros do governo, muitas vezes obrigados a desatar os nós górdios que o chefe de Estado lhes deixa com as suas afirmações no Twitter, o seu meio preferido para fazer passar mensagens.
Tal como em termos políticos, em que Trump tem procurado apagar as grandes marcas do seu antecessor – com o Obamacare à cabeça -, também na Casa Branca, as obras de arte moderna que Barack e Michelle trouxeram para dar um toque do século xxi a um edifício vetusto foram substituídas por obras clássicas e pinturas de Andrew Jackson e Teddy Roosevelt, os antecessores favoritos do presidente.
Quando a revista “Time” foi convidada por Trump para uma visita guiada à Casa Branca, ia a presidência nos três meses e já os cortinados da Sala Oval eram dourados, a sala de jantar tinha um gigantesco lustre em cristal que o presidente diz ter pago do seu próprio bolso e uma enorme televisão de ecrã plano adornava a parede por cima da lareira.
O presidente adora ser anfitrião, levar os convidados ilustres em visitas guiadas pela Casa Branca, convidar os seus conselheiros e assistentes para reuniões na zona residencial da mansão que, no tempo de Obama, era zona privada da família presidencial.
Tumultos na Casa Branca
Passado um ano da eleição, que ainda não chega a um ano de presidência – assumiu o poder a 20 de janeiro -, pela Casa Branca parece ter passado um tumulto gigantesco de más escolhas, lutas, entradas e saídas. Nos primeiros sete meses foram muitos os que se demitiram ou foram demitidos, incluindo quatro das principais figuras da administração: o chefe de gabinete, Reince Priebus, o chefe de estratégia, Steve Bannon, o secretário de Imprensa, Sean Spicer, e o conselheiro nacional de Segurança, Michael Flynn.
As lutas pelo poder entre Priebus e Bannon transformaram a Casa Branca num campo de batalha que punha em causa o próprio funcionamento da presidência. Tão grave era a situação que Trump teve um diretor de comunicações no cargo apenas 11 dias: Anthony Scaramucci.
Com tempo para umas afirmações polémicas no pouco tempo que esteve ao serviço, Scaramucci saiu com a entrada de John Kelly para chefe de gabinete, trazido pelo presidente para pôr na ordem numa casa que ameaçava fazer-se implodir com as lutas internas. O respeitado general, que até essa altura era o secretário de Segurança Nacional, marca, para já, um antes e um depois na presidência de Trump, desde aí mais serena – mesmo que o presidente já o tenha levado por caminhos tortuosos, ao acusar uma congressista de dizer e fazer coisas que esta realmente não tinha dito nem feito e com provas em vídeo a demonstrá-lo.
Montanha-russa de emoções
Pode acusar-se esta Casa Branca de tudo menos de provocar aborrecimento. Trump já conseguiu abrir guerras na frente doméstica e internacional com os seus tweets e afirmações fora de tom. O presidente é capaz de provocar uma onda de indignação entre escuteiros e de insultar a mãe de um soldado num telefonema de condolências; criticar ironicamente o rating do seu sucessor na apresentação do reality show “The Apprentice”, o ator e antigo governador da Califórnia Arnold Schwarzenegger; elogiar, criticar e voltar a elogiar os supremacistas brancos da marcha de Charlottesville; abrir uma frente de batalha com os jogadores de futebol americano por se ajoelharem na altura do hino; inventar um atentado na Suécia; dizer ao imperador Akihito que massacres com armas há em todo o lado e inclusive no Japão (onde as mortes anuais com armas de fogo não chegam aos dois dígitos); acusar Obama de ter colocado escutas na Trump Tower; indignar um aliado dos EUA de longa data como a Austrália durante uma conversa telefónica com o primeiro-ministro Malcolm Turnbull; negar-se a cumprimentar Angela Merkel à frente da imprensa; insultar o México e o seu governo com a história do muro que quer construir e os mexicanos terão de pagar.
Se um ano de vida dos cães equivalesse a sete anos nos humanos, um ano de Trump como presidente equivaleria a sete de qualquer antecessor. E estamos a contar com Nixon.