Por terras de França (2) – As florestas de “árvores-bombeiras”


Em comparação com o nosso mundo rural, o contraste! Não vimos povoações mal amanhadas, velhos vergados, rostos carcomidos pela vida dura e pelo desamparo


Sobre os trágicos incêndios, desmesuradamente dramáticos, praticamente já tudo foi dito. De repente, o país litoral, urbano, descobriu um outro país ignorado, esquecido, literalmente abandonado de gente, de (serviços de) saúde, de educação, de correios, de finanças, de justiça, enfim, de tudo o que lhe é devido. E para rematar o cenário de abandono, estes povoados de velhos, cansados, desinformados, estão – o que resta, porque ardeu quase tudo – encravados entre florestas totalmente desordenadas, verdadeiros matagais pirogénicos. Ao juntar a isto fenómenos climatéricos extremos, cria-se a tempestade perfeita, e foi o que se viu. Não ignorando, obviamente, a colossal falha do Estado e o consequente, a todos os títulos inaceitável, cortejo de falhanços que acarretou. E basta de comentários.

Voltando ao sul de França, luxuriante, onde abundam as matas de coníferas – pinheiros, abetos, ciprestes, etc. –, de plátanos, e o mais que se pode ver, salta à vista a ausência de grandes extensões de monocultura. As florestas de folhosas, povoadas de espécies autóctones de clima mediterrânico, desfilam perante o olhar de quem percorre as estradas e caminhos municipais. Mesmo para quem não tem muitos conhecimentos de botânica, como é o caso, percebe-se a diversidade de árvores cujo viço de folhagens e tonalidades várias dão à paisagem um colorido especial. Eucaliptos não foram avistados, nem um para amostra. Dir-se-á, portanto, que os franceses já aprenderam a domesticar os incêndios, que lá também os há, e não deixam andar a fera à solta. Eles prezam as “árvores- -bombeiras”, enquanto nós…

Ora, então, o primeiro poiso foi na aldeia de Mallemort de Provence, no coração da Provença, encimada por um pequeno castelo, miradouro de um panorama espetacular: o vale do rio Durance – afluente do Ródano – aos pés do maciço do Luberon, de pedra calcária, no alinhamento dos Pequenos Alpes – “les Alpilles”. Pedra de que serão construídas as casas da aldeia, desta e de todas as outras visitadas. Nesta região não faltam pedreiras, muitas delas em atividade. Apenas um pormenor, e que faz a diferença: em todas as aldeias há posto de turismo gerido pela “municipalité” – mais ou menos o equivalente, dada a dimensão, à nossa junta de freguesia –, como a quase totalidade dos parques de estacionamento à entrada das povoações. Trânsito no interior, quando o há, só para moradores. Naturalmente, se há posto de turismo – que aos locais não faz falta nenhuma –, o resto, o essencial, não deve faltar. Veja-se, em comparação com o nosso mundo rural, o contraste! Não vimos povoações mal amanhadas, velhos vergados, rostos carcomidos pela vida dura e pelo desamparo. E o sul de França, convém não esquecer, é das regiões mais pobres do país. Assim no-lo disseram, e maldisseram a crise que também sobre eles se abateu. Não obstante, como é diferente ser aldeão em França!
Para além de que as aldeias históricas francesas, do interior sul, muitas delas medievais, bem cuidadas e bem conservadas, não suplantam as portuguesas em beleza natural. Correndo o risco de ser tomada por chauvinista a afirmação, aqui vai: não vão além quando não ficam aquém. Mas a França delas se vangloria, e as preserva. E Portugal?!!

Gestora
Escreve quinzenalmente


Por terras de França (2) – As florestas de “árvores-bombeiras”


Em comparação com o nosso mundo rural, o contraste! Não vimos povoações mal amanhadas, velhos vergados, rostos carcomidos pela vida dura e pelo desamparo


Sobre os trágicos incêndios, desmesuradamente dramáticos, praticamente já tudo foi dito. De repente, o país litoral, urbano, descobriu um outro país ignorado, esquecido, literalmente abandonado de gente, de (serviços de) saúde, de educação, de correios, de finanças, de justiça, enfim, de tudo o que lhe é devido. E para rematar o cenário de abandono, estes povoados de velhos, cansados, desinformados, estão – o que resta, porque ardeu quase tudo – encravados entre florestas totalmente desordenadas, verdadeiros matagais pirogénicos. Ao juntar a isto fenómenos climatéricos extremos, cria-se a tempestade perfeita, e foi o que se viu. Não ignorando, obviamente, a colossal falha do Estado e o consequente, a todos os títulos inaceitável, cortejo de falhanços que acarretou. E basta de comentários.

Voltando ao sul de França, luxuriante, onde abundam as matas de coníferas – pinheiros, abetos, ciprestes, etc. –, de plátanos, e o mais que se pode ver, salta à vista a ausência de grandes extensões de monocultura. As florestas de folhosas, povoadas de espécies autóctones de clima mediterrânico, desfilam perante o olhar de quem percorre as estradas e caminhos municipais. Mesmo para quem não tem muitos conhecimentos de botânica, como é o caso, percebe-se a diversidade de árvores cujo viço de folhagens e tonalidades várias dão à paisagem um colorido especial. Eucaliptos não foram avistados, nem um para amostra. Dir-se-á, portanto, que os franceses já aprenderam a domesticar os incêndios, que lá também os há, e não deixam andar a fera à solta. Eles prezam as “árvores- -bombeiras”, enquanto nós…

Ora, então, o primeiro poiso foi na aldeia de Mallemort de Provence, no coração da Provença, encimada por um pequeno castelo, miradouro de um panorama espetacular: o vale do rio Durance – afluente do Ródano – aos pés do maciço do Luberon, de pedra calcária, no alinhamento dos Pequenos Alpes – “les Alpilles”. Pedra de que serão construídas as casas da aldeia, desta e de todas as outras visitadas. Nesta região não faltam pedreiras, muitas delas em atividade. Apenas um pormenor, e que faz a diferença: em todas as aldeias há posto de turismo gerido pela “municipalité” – mais ou menos o equivalente, dada a dimensão, à nossa junta de freguesia –, como a quase totalidade dos parques de estacionamento à entrada das povoações. Trânsito no interior, quando o há, só para moradores. Naturalmente, se há posto de turismo – que aos locais não faz falta nenhuma –, o resto, o essencial, não deve faltar. Veja-se, em comparação com o nosso mundo rural, o contraste! Não vimos povoações mal amanhadas, velhos vergados, rostos carcomidos pela vida dura e pelo desamparo. E o sul de França, convém não esquecer, é das regiões mais pobres do país. Assim no-lo disseram, e maldisseram a crise que também sobre eles se abateu. Não obstante, como é diferente ser aldeão em França!
Para além de que as aldeias históricas francesas, do interior sul, muitas delas medievais, bem cuidadas e bem conservadas, não suplantam as portuguesas em beleza natural. Correndo o risco de ser tomada por chauvinista a afirmação, aqui vai: não vão além quando não ficam aquém. Mas a França delas se vangloria, e as preserva. E Portugal?!!

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