Os patinhos feios


Só por caridade o treinador voltará a dar-lhe a titularidade. O pai dele ameaçou: “Ou joga ou sai.” Jorge Jesus respondeu bem, dizendo que quem exige jogar sempre leva uma resposta: “Xau!” E o que Jesus diz é para levar a sério.


Todos os clubes têm os seus "patinhos feios".

O Benfica tem Filipe Augusto. Os sócios desesperam com ele. “Só passa para o lado e para trás”, acusam. Cada erro que faz é motivo para enforcamento. Outros podem fazer o mesmo ou pior, mas são perdoados. Em relação a Filipe Augusto, a tolerância é zero.

Svilar, por exemplo, o jovem guarda-redes de 18 anos, tem toda a gente a pôr-lhe a mão por baixo. Até Mourinho. Os erros que comete fazem parte do “seu crescimento”. Até podem considerar-se “virtuosos”. Mas o pobre do Filipe Augusto não tem a mesma sorte. Mesmo quando faz as coisas bem, é “por acaso” e não por saber.

No Sporting, o patinho feio é hoje Alan Ruiz. Quando veio para Portugal, rotulado de craque, não jogava nada porque estava gordo. Fez dieta de emagrecimento, mas depois lesionou-se – e quando regressou, continuou a não jogar nada… porque vinha de uma lesão. Neste início de época pensou-se que agora é que era – mas as fracas exibições e novos problemas físicos afastaram-no da equipa. E hoje não se sabe qual será o seu futuro.

Na altura em que ele chegou a Alvalade, Jorge Jesus disse-me particularmente: “Você vai ver, o Alan é um grande jogador.” Mas, francamente, nunca vi. Nem sei por que razão alguém viu nele grande futuro. É lento, molengão, e tem uma coisa altamente irritante: sempre que recebe a bola rodopia sobre si próprio para se orientar. Ora, quando acaba o rodopio, já a equipa adversária está reposicionada. O trunfo do Sporting, que consiste hoje no contra-ataque rápido e mortífero, perde-se por completo.

Só por caridade o treinador voltará a dar-lhe a titularidade. O pai dele ameaçou: “Ou joga ou sai.” Jorge Jesus respondeu bem, dizendo que quem exige jogar sempre leva uma resposta: “Xau!” E o que Jesus diz é para levar a sério.

O patinho feio do FC Porto era Brahimi. Depois de uma chegada fulgurante ao futebol português, Brahimi foi perdendo algum espaço – e Espírito Santo deu-lhe a estocada final: tirou-o da equipa e até das convocatórias. Pô-lo a treinar sozinho.

Mas Sérgio Conceição recuperou-o e ele está a mostrar o que é: uma pérola do futebol africano. Veem-se poucos jogadores na Europa com a sua capacidade. Finta um, dois, três, sempre em progressão – e entrega bolas de bandeja aos companheiros. Só é pena que outros não acompanhem o seu virtuosismo. Mas, mesmo assim, Brahimi é um dos grandes responsáveis pela época brilhante que o FC Porto está a fazer.

Filipe Augusto, Alan Ruiz, Yacine Brahimi. Três casos. Que convidam a análises diferentes. O benfiquista pode ser que se faça: não sou tão negativo como alguns benfiquistas. O sportinguista não se faz de certeza: definitivamente, não se adaptou ao futebol europeu. Quanto ao portista, é um mago da bola.