Buenos Aires foi invadida por milhares de delegados de todo o mundo, dando um maior colorido a uma cidade que, já por si, é esplendorosamente colorida. São as “medianeras” que pintam os edifícios que rasgam os céus, é o vermelho garrido dos dançarinos, do vinho que bebem e com que celebram a vida, são os sons fortes das cordas que produzem tango e a irreverência de um povo que se exalta, inconformado com a vida.
A origem do nome, marcadamente religiosa, nasceu do santuário de Nostra Signora di Bonaria, que significa Nossa Senhora do Bom Ar e que se situa em Cagliari, na Sardenha. Descoberta em 1516 por um português (João Dias de Sóis) que navegava em nome do rei de Espanha, só em 1580 se estabelece definitivamente como cidade, sustentada sobretudo pela posição estratégica face às rotas comerciais da América do Sul.
Um país agastado por várias crises que levaram a que, no início do século, atingisse os 20% de taxa de desemprego (significativo num país com 43 milhões de habitantes), mas que, ainda assim, luta para voltar a afirmar–se num continente onde se destaca claramente pela sua cultura e por um povo extremamente culto.
É uma cidade de contrastes e que deixa transparecer a corrupção e a má gestão urbanística inerente. Edifícios seculares lado a lado com caixotes de habitação esguios e altos, adornados por janelas ilegais abertas indiscriminadamente e desalinhadas nas fachadas laterais que são, por regra, preenchidas por “medianeras” (anúncios pintados) e que se tornam uma característica urbanística inesquecível.
É neste enquadramento que, durante duas semanas, se discutirão as estratégias para o desenvolvimento das comunicações e o seu contributo para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas. Desta discussão importa salientar os contributos da CPLP e, em concreto, dos seus membros que, neste quadro, garantiram a assinatura de um acordo de cooperação com a UIT. Este acordo vai permitir desenvolver vários projetos no âmbito da Agenda Digital para a CPLP, nomeadamente o estudo sobre serviço universal, que permitirá desenhar novas abordagens sobre como utilizar este instrumento para promover o desenvolvimento das comunicações e, consequentemente, contribuir para o desenvolvimento e crescimento económico.
Outra conclusão que retiro desta conferência é a crescente importância da língua portuguesa e o prestígio de Portugal, deixando claro que o português terá de ser, com a maior brevidade possível, uma das línguas oficiais das Nações Unidas, o que permitirá ampliar a influência de Portugal e da CPLP nestes fora e, naturalmente, retirar mais-valias para o país e para a comunidade.
Por estes dias, Buenos Aires é mais do que tango e vinho, é o centro de discussão sobre o futuro das comunicações e o impacto destas na vida dos povos. Por estes dias, a CPLP volta a marcar pontos na definição de uma estratégia digital comum, abrindo mais uma janela de oportunidade para o desenvolvimento do setor nos seus países. Por estes dias, Buenos Aires é tango, vinho e tecnologia.
Escreve à quinta-feira