Mundial  2018. Quente como  a Luz!

Mundial 2018. Quente como a Luz!


Amanhã, na Luz, o jogo que toda a gente esperava há muito tempo: um Portugal-Suíça decisivo para o apuramento direto mas que tem a vantagem de conservar por baixo a rede do play-off


Semana decisiva para o apuramento de muitas seleções para a fase final do Campeonato do Mundo de 2018, na Rússia, sendo naturalmente também o inverso, isto é, afastamento definitivo de muitas outras, havendo ainda a hipótese de um play-off para os que ficaram no tem-te- -não-caias.

Claro que para nós, que vemos as coisas ao sol quente de um verão que parece querer entrar sem cerimónias pelo outono dentro, aqui plantados neste retângulo à beira-Atlântico que, para Ruy Belo, era o que o mar não quer, o dia de amanhã será fundamental, com a tal final que há muito se desenhava no horizonte, marcada para o Estádio da Luz, frente à Suíça.

Mesmo antes da ida da seleção nacional a Andorra, para um jogo chato como a potassa, a dar água pela barba aos campeões da Europa e que teve de meter, na segunda parte, o inevitável Ronaldo, já o responsável pela equipa do país dos cantões, Vladimir Petkovic, nascido em Sarajevo, se propunha ao acalentar de palavras, confessando uma realidade que Fernando Santos não encaixou muito bem (pelo menos pela resposta que deu), mas que entra pelos olhos de toda a gente: Portugal está em pior posição do que o seu adversário.

Contra este facto, não há argumentos.

E o pior, dito esta forma, não tem que ver com momentos de brilhantismo exibicionais, ainda que até por esse caminho se possa ir depois de se ter visto a maneira como a Suíça espatifou uns atarantados húngaros que tiveram, para complicar, um guarda-redes que meteu dó.

Ninguém rejeitará favoritismo aos portugueses no encontro de amanhã, ainda por cima empurrados por uma multidão que entupirá, muito provavelmente, a Luz. Está a equipa de Fernando Santos mais do que habituada a jogos com este grau de dificuldade e vem-se preparando há muito para este jogo em particular. Mal seria se viesse a fraquejar no momento em que se lhe exige superação.

Mas convenhamos: esta Suíça está a fazer um trajeto de se lhe tirar o chapéu. Nove jogos, nove vitórias!!! Concedo-lhe sem favores de qualquer espécie os três pontos de exclamação.

E aí podemos entrar nas palavras do seu técnico sem medo de equívocos. Aos suíços, em Lisboa, dois resultados servem: a vitória e o empate; aos portugueses, apenas um: o triunfo.

Não estão em vantagem os rapazes do desassombrado Petkovic? Estão, sim, deixemo-nos de filosofia de pacotilha. Vão na frente do grupo, desempoeirados como garotos num passeio pelo campo a apanhar papoilas e malvasia, e chegam a Portugal no ponto mais alto de uma moralização que vem em crescendo.

 

Golos

Não gosto de apostas, nem singelo contra dobrado como nos livros do Texas Jack. Por isso, não entro no vício tão portuguesinho de ir a jogo por uma cervejinha ou por um prato de favas.

Direi que, com Ronaldo, Portugal arrisca-se sempre a ganhar qualquer partida, pois há nele o desplante fundamental do golo. É de golos que a equipa-de–todos-nós, como lhe chamou um dia o grande Ricardo Ornellas, precisa – pelo menos de um, se a defesa cumprir a obrigação do zero, e o moço da Madeira tem uma afinidade com eles como poucos em toda a história do futebol.

Por seu lado, os suíços já andam, nos tempos que correm, longe, muito muito longe da embirrenta invenção do “ferrolho”, por Carl Rappan, e que veio em seguida dar origem ao maldito catenaccio. Não sobrarão muitas dúvidas se afirmarmos que virão com a ideia fixa de fazerem, eles também, um ou outro golito, o que dificultaria a missão lusitana.

Não me parece, embora no futebol já tenha visto um pouco de tudo e mais um par de botas da tropa, que Petkovic enfie dentro da sua grande área uma equipa inteira e se decida pela tática de “bola no ar e viva São João!”. Seria estúpido e, quase de certeza, suicida. O mais provável é assistirmos a 90 minutos de equilíbrio, com golpes e contragolpes, num embate de espadachins que lutam por esse lugar luminoso da Rússia do próximo verão. Com a vantagem enorme de acrobatas com rede por baixo: há sempre mais uma oportunidade para desbravar em caso de insucesso: o play-off.

Habituados a eles também já andou a equipa de Portugal, noutros tempos. Seria bem pouco agradável sujeitar-se a mais um logo agora que exibe no peito, no centro das camisolas, o escudo prateado de campeão do continente.

Amanhã, na Luz, eis o jogo que toda a gente esperava: há então que aproveitá–lo o mais possível. E desfrutar de mais uma final disputada em casa…