Às vezes é complicado viver. É complicado no que toca a fazer xixi pelo menos.
Senão vejamos, não estás em casa à noite, foste beber um copo ao bar que costumas frequentar. Bebes uma imperial, conversas com os teus compinchas de crime, fala-se de temas fundamentais da nação como a colheita que o PSD levou nas eleições autárquicas, o Benfica não estar a jogar um caracol e que o Pizzi não acerta um passe para aí há 5 meses ou ainda das maminhas da Rute que assim por fora parecem ser um petisquinho do céu. A coisa está favorável e avanças para outra imperial, e logo de seguida uma terceira.
Começas a descontrair, a sentir o formigueiro do álcool a trepar-te pela alma e tudo parece estar bem no mundo. Olhas para o copo da cerveja e ela devolve-te o vazio do olhar como que a dizer que precisas de um refill para não ficares atrás nesta bulha de cevada com gás que para aqui se começa a montar.
Ed Sheeran está a cantar o seu “Shape of You” pela trilionésima vez e o meu pezinho começa a dar a dar ao ritmo do pop. O quê, já virei outra bejeca? Gaita, parece que ainda agora aqui cheguei e já estou a andar a galope. Que se lixe, venha outra. De uma assentada preguei com os beiços no copo e de rajada mandei abaixo metade do néctar dourado inventado pelos sumérios lá nos confins dos tempos. Agora sinto-me solto como uma bailarina do Bolshoi e requebro a anca ao som do Bruno Mars na pista de dança. Estou bem, estou solto estou…com uma vontade de fazer um xixi que me apareceu assim do nada. Cerveja tinhosa, vocês sabem como é, entope-te a bexiga assim sem aviso prévio nem nada e lá vais tu a correr que nem um condenado a caminho do WC.
Fogo sinto que tenho xixi suficiente para inundar a Baixa de Lisboa com uma mangueirada de pila. E aqui meus bravos compinchas da internet, aqui começam os problemas.
Desconheço quem está por detrás desta modernice dos sensores de luz nas casas de banho públicas mas deixem-me que vos diga isto, não sei que tipo de bexiga é a vossa mas eu cá não consigo mandar uma mijinha regada a cerveja em 10 segundos porra! Ainda mal saquei o menino cá para fora para me aliviar e já dou por mim às escuras a tentar dar com o urinol. E lá tenho eu que levantar o braço que me resta para acender a luz. Como lá fora está a passar o “Me Enamoré” da Shakira dou por mim a abanar-me todo só para poder acertar no raça da porcelana, sim porque o sensor é um finório do caraças, se levantares só a mão para o alto ele não se acende. É o acendes! Tu tens que provar que estás ali. Tens de dar tudo. Abanas o braço enquanto meneias a anca e fazes o twist com as pernas. Tudo isto com a pilinha encavalitada na mão. Não é nada fácil meus caros mas só assim e talvez só assim consigas convencer o sacana do sensor que ainda não te foste embora e queres mesmo acabar de mijar. Finalmente ele lá volta ao activo mas em menos de um fósforo apaga novamente e tu ainda com o serviço por completar.
Nesta altura já a parede está toda borrifada de ureia, o chão parece a lagoa de Óbidos e tu para ali a dançar a Macarena só para que a luz volte a dar de si. Não é justo! Não é justo!! Senhores dos sensores, por favor cedam-nos ao menos 30 segundos de tolerância. Sejam magnânimos vá! 30 segundinhos de xixi. É pedir muito? Acho que não, e assim podemos realmente ir ao WC fazer xixi em vez de irmos para uma aula de zumba com o martelinho na mão. Garanto-vos não é bonito nem asseado, é o salve-se quem puder, uma batalha sem quartel! Já dei por mim a estar acompanhado na casa de banho porque a dita tinha dois urinóis e tive de dançar o Tango com um tipo que não conhecia de lado nenhum só para podermos acertar no buraco sem consequências de maior.
Agora imaginem o que é bailar o tango de braguilha aberta e menino de fora, ali no escuro… os dois…pois…não é bonito.
E as mulheres? Hum? Como é que vocês se safam? Imagino que a logística deva ser ainda mais complicada. Têm de tirar as calças ou a saia, fazer um agachamento sem tocar no tampo da sanita porque nunca se sabe o que por ali anda e não é nada bom apanhar uma camada de bichos só por causa de um aperto de bexiga, e só depois exercer o direito universal de urinar. Tudo isto às escuras! Eu cá acho que vocês, minhas caras são umas valentaças, mestres na arte de fazer a “onda mexicana” enquanto mandam uma mijinha…não sei, mas parece-me a única solução lógica para tal empreitada. Digam-me de vossa justiça porque afinal em tempo de guerra não se limpam armas e eu sinto-me só nesta luta desigual. Beijos.
João Pedro Santos
Escritor e Humorista.