À espera há demasiado tempo por operação no SNS? Saiba o que vai mudar

À espera há demasiado tempo por operação no SNS? Saiba o que vai mudar


Serviço SNS24, a antiga linha Saúde 24, vai passar a contactar utentes para acelerar encaminhamento para outros hospitais ou setor convencionado


No final do ano passado havia 210 906 pessoas em lista de espera para operação no Serviço Nacional de Saúde, dos quais 31 214 há mais tempo do que prevê a lei. Desde 2006 que o SNS garante um vale de cirurgia para os doentes serem operados no setor particular convencionado quando é atingido 75% do tempo máximo de resposta garantido e nos últimos anos houve incentivos para aumentarem as transferências entre os hospitais públicos, que podem ser feitas a partir dos três meses de espera no caso de operações de prioridade normal.

Para agilizar as transferências, quer no setor público quer para o setor convencionado, o governo avança este mês com uma nova medida. Os utentes que estejam a aguardar por uma cirurgia num hospital do SNS e que atingiram os tempos máximos de resposta garantidos vão passar a ser contactados pelo serviço SNS24, a antiga linha Saúde 24, para serem informados das alternativas existentes. Até aqui, os doentes recebiam apenas uma carta e só tinham acesso a explicações detalhadas quando iam ao hospital.

"Poupar tempo"

Ricardo Mestre, da Administração Central do Sistema de Saúde, indicou à agência Lusa que o objetivo desta medida é poupar tempo, até porque a cirurgia passa a poder ser marcada para outra unidade través desse contacto telefónico. E o "cheque cirurgia" passa a poder ser recebido por SMS ou email. “Queremos uma atitude pró-ativa para ajudar o utente a tomar decisões”, disse o responsável.

Em entrevista ao "SOL", o ministro da Saúde admitiu que poderá também avançar a hipótese de transferência para o convencionado quando as consultas não são feitas a tempo e horas mas para já essa intenção ainda não está concretizada.

Ricardo Mestre apontou em contrapartida para o aumento das consultas de telemedicina para colmatar algumas dificuldades de acesso. Existe também já a hipótese de, na hora da marcação, os utentes poderem escolher um hospital com tempos de resposta mais curtos, sendo que desde junho de 2016 usufruiram dessa hipótese 240 mil pessoas – uma percentagem de 10% dos doentes referenciados para primeira consulta hospitalar pelo médico de família.

Até ao final do ano, Ricardo Mestre adiantou à Lusa que será feito um estudo sobre as razões que estão na origem da escolha de outro hospital e o que leva os doentes a optarem pelo hospital da sua área de residência mesmo quando os tempos de resposta são demorados.

Apoio para deslocações? 

Um dos fatores já abordado no passado pode ser o facto de não haver qualquer apoio às deslocações dos doentes, que têm assim de pagar do seu pouco a viagem para outro hospital mais longe da área de residência.

No ano passado foram emitidos 67 477 cheques cirurgia para o setor convencionado e 14 353 notas de transferência de doentes entre hospitais públicos.

No início da legislatura, o governo chegou a defender a necessidade de diminuir o recurso ao privado nesta área, sublinhando a importância da internalização da resposta no Estado. O objetivo não parece ter desaparecido, mas surge agora como menos prioritário face ao aumento do acesso. "Os portugueses não têm culpa que o sistema demore muito tempo a resolver as suas dificuldades", disse o ministro da Saúde Adalberto Campos Fernandes na recente entrevista ao "SOL".