Interessa-me pouco começar a discussão da questão catalã a partir do nacionalismo que pode conter. Um processo de auto-determinação de um povo pode construir-se a partir de uma dimensão internacionalista e um processo federalista pode redundar num projecto nacionalista – veja-se os casos dos EUA ou da UE.
Nestas matérias, também não me posiciono em função de uma matriz de avaliação global que possa apurar a existência, ou não, de uma identidade comum passível de se constituir em nação. Aliás, se essa matriz existisse, estou certo que a Catalunha não teria dificuldade em inscrever-se. Interessa-me, isso sim, saber o que, num determinado momento histórico, o povo entende ser o que melhor lhe serve, ou seja, interessa-me a sua decisão soberana.
Há umas semanas as sondagens e estudos de opinião na Catalunha diziam-nos que perto de 80% dos catalães eram favoráveis ao referendo ainda que o não à independência estivesse a crescer para números próximos do sim. A partir do discurso do medo perante a incerteza, a monarquia constitucional espanhola estava à beira de conquistar uma vitória histórica ou uma pequena derrota que lhe permitiria negociar perante uma maioria pouco clara.
Mas a iniciativa do governo espanhol de tentar travar pela força o referendo catalão colocou no centro da discussão algo bem mais grave. Rajoy, e as forças que o suportam, demonstraram que não ficariam satisfeitos com uma eventual vitória no referendo. Havia que vergar o povo catalão tal como fizeram os franquistas.
A intervenção musculada do Estado Espanhol – que as Nações Unidas admitem estar a colocar em causa direitos fundamentais – relembra-nos que este mesmo Estado ainda é regido por uma constituição tutelada pela monarquia e negociada com uma das ditaduras fascistas mais sanguinária do séc. XX e que o partido de Rajoy acolheu os dejectos do franquismo, entre os quais, o ódio à Catalunha e ao seu povo.
À hora a que escrevo começam a chegar-nos imagens e vídeos do exército de Madrid a desmantelar pela força assembleias de voto. Na Catalunha luta-se pela liberdade.
Escreve à segunda-feira