Grande Lisboa. O distrito do funeral

Grande Lisboa. O distrito do funeral


No local do crime em que se deu a hecatombe de Teresa Leal Coelho, o PSD não perdeu câmaras, perdeu votos


Três em dezasseis. Só mais uma que o PCP. O partido mais representado no parlamento, o PSD, teve uma noite para esquecer na maior distrital do país, a de Lisboa. Ganhou as reeleições em Mafra, no Cadaval e em Cascais, mas viu o Partido Socialista triunfar em dez dos 16 municípios do distrito. Dos restantes, dois permaneceram comunistas e o último, Oeiras, continuou independente, mudando de dono.

Acabou o ‘ganhámos as eleições’

Se é nos centros urbanos que se concentram mais eleitores, é também neles que se ganham as eleições nacionais. Essa é a maior vitória de uma esquerda – ou de uma solução de governo – já cansada de ouvir a oposição com o argumento de ter ganho as últimas legislativas. “Nós é que ganhamos as eleições”, foi a frase que mais ecoou nas paredes da Assembleia da República nos últimos dois anos, desde a constituição da ‘geringonça’. A partir de ontem, o resultado socialista no distrito Lisboa mostra uma metrópole nada descontente com o executivo do Partido Socialista e muito pouco social–democrata nas suas preferências partidárias. A partir de ontem, o PSD pode dizer com menos convicção “nós ganhámos as eleições” e com ainda menos convicção que ganhará as próximas – ou assim dizem os números conseguidos no distrito de Lisboa nas eleições locais de ontem A capital conta. E na capital a vida autárquica não está fácil para o maior partido da oposição, ainda liderado por Pedro Passos Coelho.

Mas aproximemos o microscópio e entendamos por quê. Se é verdade que os ‘laranjinhas’ não perderam uma única câmara das que já detinham no distrito de Lisboa, também é verdade que deixaram o Partido Socialista subir o número de mandatos autárquicos conseguidos. E para quem esperava que as eleições autárquicas fossem uma eleição punitiva para quaisquer falhas do governo do PS, a previsão não se verificou de todo, nem do ponto de vista nacional, e ainda menos na Grande Lisboa.

Nunca foi para ser

Em Sintra, onde Marco Almeida quase ganhara a Basílio Horta há quatro anos, Almeida regressou e com o PSD a apoiá-lo acabou por perder novamente e por distância bem maior. Passos, que nunca foi um crente na candidatura, tendo aceitado dar o apoio ao ex-militante (Marco Almeida) a pedido da coordenação nacional autárquica e por ausência de alternativa, vê assim o segundo maior concelho do país a nível territorial manter-se em mãos socialistas.

Independente com consequência

Em Oeiras, nem PS nem PSD tiveram grande sucesso no combate entre independentes e velhos conhecidos. O regresso de Isaltino Morais foi consagrado com uma vitória que remeteu o incumbente e seu antigo vice-presidente, Paulo Vistas, para segundo lugar, deixando a terceira posição do pódio para Joaquim Raposo, do PS. Ângelo Pereira, do PSD com o apoio do CDS, logo a seguir, a eleger um vereador como o PCP. A maioria absoluta de Isaltino Morais dá-lhe uma liberdade política, não necessitando de mais ninguém para viabilizar o seu executivo camarário, coisa que poderá não deixar a distrital dos sociais-democratas impune – a influência de Isaltino ainda é considerável. E consideravelmente distante da atual liderança do seu antigo partido.

Em Cascais, o PSD manteve o seu bastião distrital – afinal, a lista é encabeçada pelos dois homens que já lideraram o PSD da Grande Lisboa, assim como em Mafra e no Cadaval. O resto, à exceção de Loures e do Sobral de Monte Agraço, que permaneceram com o Partido Comunista, ficou para o PS.

Odivelas, onde a candidatura de Fernando Seara, experiente autarca que já havia passado por Sintra (como presidente de câmara) e por Lisboa (como vereador), chegou a entusiasmar, os sociais-democratas conseguiram roubar o 2º lugar ao PCP, mas a vitória continuou socialista, como, aliás, no restante distrito.