Quem não queria poder passar um dia em cheio no parque de diversões gigante do Barreiro? Ou aterrar diretamente em Coimbra para conhecer o centro do país? Ou até mesmo ir às compras com uma moeda própria do concelho? Parecem irrisórias, mas são mesmo propostas dos candidatos às autárquicas.
“Quem pensa pequeno só pode atingir pequeno”, foi assim que Frederico Rosa apresentou o principal projeto do PS do Barreiro para estas eleições. O candidato à câmara quer transformar os terrenos da Quinta do Braamcamp, uma propriedade com cerca de 21 hectares, num ponto turístico para atrair visitantes à região. No plano que já está a ser promovido, pode ver-se uma roda gigante, espaços verdes e o que parece ser uma praia artificial. Em declarações ao jornal regional de Setúbal, “Distrito”, o candidato à Assembleia Municipal, André Pinotes Batista, defendeu o investimento na atividade turística porque “é um catalisador de desenvolvimento do nosso país” e vai trazer emprego aos barreirenses.
Foi também a pensar no turismo que Manuel Machado, que procura a reeleição em Coimbra, avançou com a proposta de um aeroporto na cidade dos estudantes. “Liderarei no próximo mandato autárquico a transformação do aeródromo de Coimbra, o Aeródromo Municipal Bissaya Barreto, em Cernache, num aeroporto civil comercial”, afirmou durante a apresentação oficial da recandidatura.
O que o socialista Manuel Machado não esperava é que, nas mesmas eleições, o candidato do PSD avançasse com um projeto concorrente na Figueira da Foz. Carlos Tenreiro, que corre pelo PSD, promete “lutar pela instalação de um aeródromo como meio de transporte de ligação aérea entre os principais aeroportos nacionais, para turismo e negócios”. As duas propostas estão feitas e ficam a menos de uma hora de carro uma da outra.
Com cerca de 350 quilómetros de estrada entre a Guarda e Setúbal, há uma proposta que une as duas autarquias: a criação de uma moeda do concelho. O “Sancho”, foi idealizado pelo socialista Eduardo Brito na Guarda e Luís Teixeira, candidato do PAN em Setúbal, apresentou o “Roaz”, com o apoio de Fernando Paulino, cabeça de lista do PS à mesma Câmara Municipal. Ambas as iniciativas têm como objetivo incentivar o comércio local pois, uma vez que a moeda só terá valor nas respetivas cidades, existe maior resistência à saída de dinheiro do município.
Em Lisboa, uma das prioridades da candidata pelo Nós, Cidadãos, Joana Amaral Dias, é a criação de uma área exclusiva a mulheres nos transportes públicos. O projeto foi apresentado no debate “Mulheres, raparigas e a cidade: o direito ao espaço público em Lisboa” e pretende evitar que as mulheres sejam apalpadas nos transportes públicos.
Na Campanha do Amor, do independente Humberto Correia, há várias propostas que merecem destaque. A primeira é a criação de um carnaval internacional de matrafonas, com música, onde todos estão convidados a participar. “Eu próprio já dei o exemplo, mascarando-me de matrafona e fiz bastante sucesso entre a população”, escreve o candidato na página oficial da campanha chamada “Faro – O Destino do Amor”. Também no programa eleitoral, Humberto Correia defende a realização de bailaricos todas as semanas com o mote “Faro precisa de mais animação”, e a construção de uma nau quinhentista na doca da cidade. Segundo o independente, esta iniciativa “trará à capital algarvia milhares de visitantes e divulgará o valor da nossa cidade”.
Para Filipe Costa, que é candidato pelo PDR à Câmara de Viana do Castelo e à Assembleia Municipal de Arcos de Valdevez, Faro seria o final da rota turística para cruzeiros pela costa portuguesa que quer criar. O cruzeiro sairia do porto de Viana do Castelo, que segundo o candidato iria ter “condições para receber os maiores paquetes de cruzeiro do mundo”, rumava em direção a sul “parando em Matosinhos, em Lisboa e em Faro. E, depois, as pessoas viriam de avião para o Porto e, do Porto para Viana do Castelo de autocarro são 20 minutos”, contou Filipe Costa ao i.
Grandes investimentos Em Seia, o candidato do CDS aposta na mobilidade. Manuel Borges reclama a construção de três Itinerários Complementares, o IC6, o IC7 e o IC37, e defende que se avance com as obras para ligar a cidade à capital de distrito, Guarda, por túneis que atravessam a Serra da Estrela. “Nós demoramos uma hora e meia a chegar à Guarda, onde está o hospital distrital. Se fossemos pelo túnel, seriam vinte minutos”, explica em declarações à Lusa.
O candidato do PDR a Bragança promete trazer o comboio de volta ao município. Não seria um projeto megalómano se não estivéssemos a falar de um transporte que, segundo Manuel Vitorino, circulasse “a 140 quilómetros por hora, mais do que é permitido na autoestrada”. Apenas os comboios Intercidades da CP, que ligam, por exemplo, Lisboa ao Porto ou a Braga, chegam perto dessa velocidade, ficando-se pelos 120 quilómetros por hora.
Também em Bragança chega uma proposta para a construção do Museu da Língua Portuguesa. Quem defende é o atual presidente Hernâni Dias que volta concorrer pelo PSD. Segundo o programa eleitoral, o projeto presente no plano estratégico de desenvolvimento urbano já está aprovado e custará 17,6 milhões de euros ao município.
O mote de Joaquim Raposo, candidato do PS à Câmara de Oeiras, é “temos projetos”. E de facto têm: ligações de comboio, estações novas da CP, túneis, viadutos, novas ligações às vias rápidas, estacionamento… No meio de tantos projetos está também a ideia de construir 34 parques para cães no concelho que inclui a criação de um espaço com cinco mil metros quadrados, o equivalente a metade de um campo de futebol, com vários circuitos de exercício para cães.
Animais, música e trabalho Se habita em Mafra e aprecia um bom bife, poderá ter de tirar a segunda-feira da sua agenda. O PAN quer promover a iniciativa “Segundas Sem Carne” no concelho, um projeto que pretende incentivar os cidadãos à prática da alimentação saudável. No mesmo programa eleitoral está também presente o fim das “atividades circenses” e da utilização de “animais como atração artística”.
José Couto, do PS, pretende dignificar e facilitar o fim de vida, diminuindo para metade o preço das campas na freguesia de Sobrosa, concelho de Paredes. Na mesma lógica de pensamento, o grupo Independentes por Fafe promete colocar ecrãs tácteis no cemitério para “disponibilizar informação aos visitantes acerca das pessoas enterradas” e “respetiva localização”.
Eduardo Vítor Rodrigues, do PS, quer construir uma igreja de Siza Vieira para ser um “marco de referência” em Gaia. Vítor Proença, da CDU, pretende que a música filarmónica de Alcácer do Sal seja considerado património imaterial da UNESCO e Rui Silva, também da CDU, quer promover a gravação de um disco para preservar a identidade fadista da freguesia de Alcântara.
São tantas as propostas em jogo nestas autárquicas que chega a haver quem exagere. Em Ponta Delgada, a campanha de Vítor Fraga, candidato do PS, tem 200 propostas e em Terras do Bouro, o também socialista Luís Teixeira chegou aos 150 compromissos. Uma montanha de promessas à espera de votação no dia 1 de outubro.