A arena de combate do futebol português


Há pouco mais de uma semana, disputou-se em Dublin, capital da República da Irlanda, o jogo de futebol mais importante do ano naquelas paragens. 


Mais de 80 mil pessoas assistiram no estádio à partida entre a equipa de Dublin e a de Mayo, enquanto centenas de milhares de outras a acompanharam pela televisão nas casas, pubs e restaurantes da cidade. Convém abrir aqui um parêntesis para explicar que desporto é esse a que os irlandeses chamam futebol. Na verdade, trata-se de uma mistura entre futebol, básquete e râguebi outrora muito promovida pelos nacionalistas irlandeses, que viram no desporto uma forma de afirmar a sua identidade.

Cada equipa tem 15 jogadores e, apesar das semelhanças com o râguebi, tudo se passa de forma limpa e correta. Olhando para o nosso futebol, embora seja aparentemente um desporto mais pacífico, o ambiente é claramente menos recomendável. Basta olhar para os tempos mais recentes: o Sporting faz “queixinhas” sobre jogos em que não é tido nem achado, que envolvem o clube rival, tentando prejudicá-lo; o diretor de comunicação do FC Porto ameaça e faz revelações sobre a vida interna do Benfica; L. F. Vieira faz comentários perfeitamente dispensáveis sobre Bruno de Carvalho, chamando-lhe “mitómano” e comparando-o a Vale e Azevedo. Insólito? Bizarro? Patético? É tudo isso e mais ainda: é a demonstração de que, fora das quatro linhas, o futebol português se tornou uma espécie de arena de combate em que vale mesmo tudo para desestabilizar o adversário.

Com a agravante de que qualquer boca, insulto ou acusação é amplificado/a até à exaustão nos intermináveis e indigentes fóruns de comentário desportivo. Os irlandeses têm fama de bêbedos e briguentos, mas depois da final do campeonato nacional pôde ver-se os adeptos dos clubes rivais conviverem em boa paz. Alguém consegue imaginar isso depois do Sporting-Porto do próximo domingo? Embora nos consideremos um “povo de brandos costumes”, por cá as coisas descambam facilmente para a violência, com episódios de pancadaria e até com vítimas mortais. Já era altura de os dirigentes deixarem de contribuir para esse ambiente de ódio cego e estúpido.