Três palavras definem hoje a equipa do Benfica: convencida, enfraquecida, envelhecida.
Convencida
Depois de ganhar 4 títulos seguidos, o Benfica “convenceu-se” de que bastavam as camisolas para ganhar os jogos. Assisti a vários desafios com adeptos encarnados e testemunhei que, acontecesse o que acontecesse, eles achavam que a vitória sorrir-lhes-ia sempre. E, de facto, nos momentos mais complicados, surgia um golo salvador que garantia a vitória ou o adversário falhava um golo que permitiria o empate.
Enfraquecida
Possuída desta convicção, a direção achou que podia vender jogadores à vontade. Pensou que o clube encontraria sempre dentro de si jogadores capazes de taparem os buracos. E deixou-se “enfraquecer”: vendeu os melhores e não se reforçou à altura.
Envelhecida Oito jogadores do Benfica têm mais de 27 anos: André Almeida e Salvio (27), Pizzi (28), Jardel e Fejsa (29), Jonas (33), Eliseu (34) e Luisão (36). Ora, mesmo os de 27, não sendo velhos, já têm muitos jogos nas pernas – e alguns estão frequentemente lesionados.
Rui Vitória, posto nos píncaros pelos adeptos nos últimos dois anos – até para “desdenhar” os méritos de Jorge Jesus –, já começou a ser contestado. Dizem que Filipe Augusto não devia jogar, que Samaris merecia jogar mais vezes, que Raul Jiménez deve ser titular. Ou seja: começa a haver desconfiança em relação às opções do treinador.
Mas a crise que o Benfica está a viver suscita-me uma dúvida mais funda que partilho com os leitores. Depois da saída de Jesus, o Benfica começou a época titubeante – mas fez uma 2.a volta notável, com uma impressionante série de vitórias, não se deixando intimidar com a perseguição do Sporting e acabando o campeonato em primeiro. E na época seguinte os bons resultados continuaram.
Dir-se-ia que a equipa até jogava melhor com Vitória do que jogara com Jesus, o que era surpreendente, pois este pusera o Benfica a jogar “o dobro”. O que se passava, afinal?
Lembrei-me então do que acontecera em Braga depois da saída do mesmo Jesus. Na época seguinte, treinada por Domingos Paciência, a equipa minhota disputou o título até ao último jogo, acabando no 2.o lugar.
E é esta a dúvida que me assalta hoje: será que Vitória, tal como Domingos, beneficiou do trabalho de Jesus – e agora o Benfica começa a descer à Terra?
É uma hipótese. Mas não quero finalizar sem uma palavra de esperança. Os adeptos desvalorizam o lucro de 44,5 milhões na época 2016-17, argumentando que o importante são os resultados desportivos. Ora, o equilíbrio financeiro dos clubes, como o dos países, é decisivo. Portugal, para voltar a crescer, teve passar por uma apertada austeridade. Se um clube se deixa seduzir pelos gastos, pode acabar na falência.