A Educação em Empreendedorismo  e a Mudança na Universidade

A Educação em Empreendedorismo e a Mudança na Universidade


A Escola também mudou nos últimos anos. A cada grupo de 2 ou 3 novos alunos será atribuído um dos 600 mentores voluntários, na sua grande maioria alunos de segundo ou terceiro ano, que não só os ajudarão a conhecer os cantos à casa, como partilharão os truques para a sobreviver à elevada exigência do…


Está a decorrer no Técnico a semana de acolhimento aos alunos colocados na primeira fase do concurso nacional de acesso. Estes 1484 novos alunos viveram toda a sua vida num mundo digital (a Wikipedia foi lançada quando eles tinham cerca de um ano de vida) e entram no ensino superior com expectativas e exigências bem diferentes das que tinham os seus professores quando eram caloiros.

A Escola também mudou nos últimos anos. A cada grupo de 2 ou 3 novos alunos será atribuído um dos 600 mentores voluntários, na sua grande maioria alunos de segundo ou terceiro ano, que não só os ajudarão a conhecer os cantos à casa, como partilharão os truques para a sobreviver à elevada exigência do Técnico. Quando nos visitam, os antigos alunos ficam surpreendidos com a atual variedade de cadeiras opcionais, com as iniciativas organizadas pelos 44 núcleos de estudantes, com o envolvimento de mais de mil alunos na websummit de 2016, com as atividades de ligação à empresas e preparação para o recrutamento (programa Career Discovery@Tecnico), tudo com o objetivo de que cada aluno saia do Técnico com um perfil único.

Estas mudanças que fortalecem a ligação da escola à sociedade são importantes mas há um número crescente de pessoas, onde me incluo, que acha que o ensino superior terá de mudar ainda mais. Apesar do bom senso futebolístico de não se mexer na equipa vencedora, o crescente ritmo das disrupções tecnológicas e a alteração do papel do professor fazem-nos crer que há necessidade de uma nova abordagem à educação.

Há uma alteração no papel do professor na aula. A hierarquia professor-aluno baseava-se exclusivamente numa assimetria de informação. Com a disponibilidade de outros meios para chegar ao conhecimento e com a experiência de que o ritmo de mudança o poderá tornar obsoleto, o aluno espera mais do professor: “porquê ir à aula se posso obter essa informação online?”. A resposta passa pela aprendizagem ativa, onde o aluno é envolvido na aula.

Bernie Roth, professor de robótica da universidade de Stanford, foi em 2004 um dos fundadores da d.school e escreveu o livro “The Achievement Habit” com base na cadeira “Designer in Society” que lecionou durante diversas décadas. O seu lema “Fazer é Tudo” conduz os alunos à ação, mostrando que não precisam de esperar por algo no futuro para tomarem o controlo das suas vidas.

Heidi Neck, no livro “Teaching Entrepreneurship”, apresenta o modelo de ensino experiencial para a aprendizagem das 5 práticas do empreendedorismo: brincar (abstração da realidade), empatia (perceber as necessidades dos outros), criação (encontrar novas soluções), experimentação (tentar e ver o resultado) e reflexão (codificação da aprendizagem).

Em “Education in a Digital Age”, Erik Vermeulen da Tilburg Law School lista as cinco competências essenciais para ajudar a próxima geração a tomar decisões em condições de extrema incerteza: pensamento criativo, empreendedorismo, trabalho em equipa, ética e aprendizagem interdisciplinar.

Os três autores destacam a educação em empreendedorismo por se focar nas competências necessárias às novas gerações: passar da ideia à ação, conhecer o cliente e o modelo de negócio, criatividade, trabalho sem chefe e uma vida profissional em que o conceito de carreira será muito menos relevante.

O desafio do ensino experiencial, muito usado na educação em empreendedorismo, é ir mais além. Reunir os alunos em equipas com dimensões razoáveis, e colocá-las perante cenários e desafios para os quais têm de encontrar soluções que precisam de validar no mundo real. Este modelo exige um ambiente de aprendizagem mais plano e inclusivo (flipped-classroom, por exemplo) havendo domínios em que os alunos têm mais informação do que o próprio professor.

O sucesso do ensino experiencial e da aprendizagem baseada em projetos tem conduzido à necessidade de espaços onde os alunos podem continuar a trabalhar nos seus projetos após a conclusão da cadeira em que o iniciaram. Estes espaços, com designações diversas desde incubadoras a laboratórios de inovação, oferecem equipamentos e pessoal para os grupos de alunos nos seus projetos extracurriculares. Alguns desses projetos poderão ser de empreendedorismo, participação em competições universitárias ou respostas a desafios lançados por empresas. Os laboratórios de inovação, como o iStartLab do Técnico, são também locais de encontro de alunos com objetivos comuns.

Os alunos que agora entram no ensino superior devem entender que se espera mais deles do que no passado. A experiência universitária não são apenas as aulas, os exames e as saídas à noite. Há muitas oportunidades para a ação que não podem esperar pelo fim do curso.

 

Professor do Instituto Superior Técnico