15 de Setembro de 1957. Nova Lisboa vista do alto da velha Lisboa…

15 de Setembro de 1957. Nova Lisboa vista do alto da velha Lisboa…


Preparava-se a comemoração do 45º aniversário de Huambo que foi Huambo duas vezes. Terceira cidade da província, orgulhavam-se os jornais: “10 mil habitantes civilizados; 30 mil indígenas”. Um progresso que não parava no Planalto de Benguela, terra fértil de clima ameno.


Quando fui a Nova Lisboa já não havia Nova Lisboa: era Huambo. Mas hoje falo mesmo de Nova Lisboa, assim à moda colonial, salvo seja, e sobre o que se dizia dela na velha Lisboa, ainda uma espécie de capital do tal império uno e indivisível do Minho a Timor.

Mas não nos deixemos levar pela leveza dos nomes. Nova Lisboa também foi Huambo antes de ser Nova Lisboa.

O general Norton de Matos, que foi Governador Geral de Angola, lançou as bases da cidade em 1912, mês de Setembro.

Vamos ao mês de Setembro, então, como é hábito nesta rubrica que volta para trás nas décadas. Setembro de 1957: comemoração dos cinquenta anos da urbe que, durante uns tempos, por via da ferrovia era designada de Pauling Town. Sim, parece coisa do velho Oeste, mas foi mesmo assim. Pauling, empreiteiro inglês, um dos responsáveis pelo desenvolvimento do Caminho de Ferro de Benguela, tinha montado um estaleiro. Daí Pauling Town, pelo menos para quem lhe enviava correspondência lá da sua Inglaterra natal. Norton de Matos desgostou-se. Decidiu estabelecer em redor do forte de Huambo uma zona de habitação. Planalto de Benguela, zona fértil, de grandes capacidades agrícolas e pecuárias, perspectivas excepcionais, asseverava-se.

Diploma Legislativo de 8 de Agosto de 1912.

Em seguida, a Portaria Provincial 1086, tratou de dar uma absolutamente diferente disposição ao local: proibição de construção de casas de adobe ou de madeira e materiais do mesmo género.

Era uma cidade – não era um estaleiro! Não voltaria a sê-lo.

Nova Lisboa veio por ordem de Vicente Ferreira, bem mais tarde, em 1928. Era ele o Governador Geral de Angola na altura. Achou que o nome atribuia ao local a importância que lhe era devida. Aliás, Vicente Ferreira quis ir ainda mais longe: declarou Nova Lisboa como a nova capital de Angola. Capital com nome de capital. Debalde. A ideia não assentou arraias, Luanda continuou a ser Luanda e Nova Lisboa apenas Nova Lisboa, o que já era muito.

Agora vou, de novo, até 1957.

Em Lisboa, Portugal Continental, estuário do Tejo, os jornais assinalavam o 45º aniversário de Nova Lisboa.

Textos laudatórios.

Prosas entusiásticas.

Divulgação da terra angolana para aqueles que, na Metrópole, a não conheciam.

Leia-se um pouco: “Precisamente no ponto onde acaba de chegar a linha férrea partida do Lobito, a nova cidade deparou-se desde logo com um imediato crescimento. Com o rodar dos tempos, não se iludiram as esperanças do seu fundador, pois Nova Lisboa, beneficiando do atractivo extraordinário do seu clima favorável, tornou-se uma zona de pleno progresso”.

Orgulho. Há aqui orgulho. Nas linhas e nas entrelinhas. Orgulho de país que tinha em Angola o diamante lapidado das suas colónias.

Angola! Havia quem suspirasse por uma oportunidade de lá se instalar, fazer riqueza, contribuir para o progresso de um território abençado pela natureza.

Continuemos a ler: “Nova Lisboa é, hoje, a terceira cidade de Angola, tem uma população de 10 mil habitantes civilizados, brancos e da cor, e 30 mil indígenas, e constitui o legítimo orgulho daqueles que se têm esforçado pela valorização dos nossos territórios ultramarinos e, especialmente, pela Província de Angola”.

Cá está o orgulho.

Legítimo orgulho!

Já a distinção entre habitantes civilizados e não civilizados fica na consciência do autor da prosa, fossem eles de cor ou não. E 30 mil habitantes não civilizados era um número meio bisonho, convenhamos.

Nova Lisboa! Terra de progresso!!!

“Os limites da cidade alargaram-se por efeito de uma intensa actividade no campo da construção civil, nasceram magníficas avenidas, surgiram, enfim, todos os sinais de marcante progresso, como instalações de abastecimento de água e de fornecimeno de electricidade, escolas e hospitais”.

Escolas: importantíssimas para civilizar gente.

Huambo, a Huambo de hoje, tem mais de um milhão de habitantes.

Como cresceu essa Nova Lisboa que tinha um nome colonial como poucas…

Em 1957, Setembro de 1957, dia 15, já se comemorava em papel de jornal os quarenta e cinco anos da sua existência.

“Sob o nome de Nova Lisboa, não tem cessado, nos últimos anos, de contribuir para o prestígio daquela importante parcela do território nacional. Toda a vida da cidade se tem caracterizado pelo mesmo acerto de progressivo crescimento, impulsionado pelas mais diversas e frutuosas iniciativas, quer no campo agrícola quer no industrial”.

Orgulho de Portugal inteiro…