“So we must beware of a tyranny of opinion which tries to make only one side of a question the one which may be heard. Everyone is in favour of free speech. Hardly a day passes without its being extolled, but some people’s idea of it is that they are free to say what they like, but if anyone says anything back, that is an outrage”.
(Winston Churchill, discurso no Parlamento a 13 de Outubro de 1943).
Por estes dias o país, por mais improvável que tal parecesse, parou para ouvir o que se passava na Universidade de Verão do PSD o que provocou reacções surpreendentes.
A referida universidade de Verão acontece, ao que parece, há já muitos anos e destina-se, como se repete em todos os jornais, todos os anos, aos jovens quadros do PSD e é, sem sombra de dúvidas ou qualquer embuste, um exercício assumidamente político-partidário.
Ora, considerando que é organizada pelo PSD, destina-se aos jovens quadros do PSD e, na mesma, discursam ou palestram (não só), mas essencialmente, figuras do PSD (este ano, entre outros, Paulo Rangel, Passos Coelho e Cavaco Silva) é natural – diria eu – que os temas tratados e os prismas utilizados para as respectivas análises não sejam muito diferentes dos da matriz dos seus referidos impulsionadores, ou seja, que reflictam, não um elogio às espectaculares qualidades do primeiro-ministro, sua equipa e partidos de apoio, mas uma perspectiva da oposição sobre o estado da nação e da actuação da coligação das esquerdas.
É bem verdade que o prolongado silêncio (alguém nas referidas jornadas referiu-se-lhe como a “perda do pio”) dos parceiros da coligação de extrema-esquerda, anteriormente conhecidos pelas “esganiçadas” ou o “cassete”, poderá ter contribuído para uma certa indolência e falta de hábito de protesto ou crítica, vulgo aburguesamento.
Aliás, o silenciamento do Bloco de Esquerda, enquanto marca indelével da sua morte enquanto partido anti-sistema é, arriscaria, uma das poucas boas novidades saída desta coligação de derrotados individuais.
E, de certa forma, contrasta com o PCP que longe dos “simples” temas fracturantes para onde Costa remeteu o Bloco, tem vindo a fazer um trabalho notável na tentativa de Albanização desta ponta ocidental da europa onde conseguiu já recuperar ao País o poder sobre os transportes públicos; onde semeia o caos com os enfermeiros especialistas e os médicos; e onde ressuscitou o verdadeiro ministro da educação, Mário Nogueira; e, ainda, onde, entre o mais, agora já ataca o “grande capital internacional”, numa manifestação de força género Coreia do Norte.
Estas e outras questões mereceram a denúncia dos oradores nas referidas conferências.
Se nos ativermos ao que é objectivo nos factos referidos, será que podemos, como António Costa, invocar sem uma réstia de culpa ou esgar de remorso, simples maledicência nos factos que se lhe apontam.
É, porventura, falso que a tragédia que se acometeu em Portugal com mais de 200.000 hectares ardidos não aconteceu? E que num só episódio morreram 66 pessoas? Como referiu Paulo Rangel.
Ou que as críticas aos boys em geral (e hoje também objectivamente apontadas ao Presidente da Protecção Civil), são tantas e tais que se impôs a “lei da rolha” para controlar a informação? Ou até que toda a preparação da campanha de verão pelo MAI, desde o SIRESP, (que este PM e a MAI contrataram), até às refeições que foram servidas aos bombeiros, demonstram o grau zero de preparação e o máximo de irresponsabilidade.
Será possível continuar a achar que ninguém apontaria a Costa, aquilo que toda a esquerda apontou a Passos quando este sob resgate teve de fazer opções e cortes, e que é que a opção pelas cativações (ou cortes) e a decisão sobre as mesmas é uma decisão política sindicável que todos podem e devem escrutinar!
Ir “além do défice” quando é feito pelas esquerdas, contrariamente ao que parece à acomodada opinião geral, não gera resultados diferentes de ir “além da troika” em estado de emergência financeira, pela direita, e por isso é legítimo que se aponte a Costa, como aí se fez, que: “Há outra maneira de cumprir as metas europeias, havia outra forma e não comprometia nem a vida, nem a integridade física, nem a segurança dos portugueses e das portuguesas”.
É um exercício de liberdade poder dizer-se que: “O que lamento é que, para cumprirmos as metas europeias e criar a tal ilusão do Estado salarial, tenhamos criado condições de deterioração, de degradação dos nossos serviços públicos essenciais que já causaram vítimas e não foram poucas, é isto que eu lamento”.
Este discurso, mutais mutandis, é igual ao dos tempos do resgate, mas as circunstâncias herdadas já não são as mesmas, António Costa é o único responsável pelas opções políticas e orçamentais que fez e das alianças que decidiu, tanto para chegarmos ao resgate, como para distribuição das prebendas, depois dele.
Assim, deveria ser insondável, num quadro de cultura democrática, porque razão entende Costa que alguns reparos, (normalmente os laudatórios) são exercícios de liberdade e justiça e, porventura, de afectos, e os dos demais pura maledicência.
É natural que o PSD, e não só, sejam críticos do governo e dos seus representantes, é, aliás, uma das premissas da condição da democracia liberal, como também deveria ser a da responsabilização dos governantes pelas suas acções e omissões do ponto de vista político, (mas este é um princípio ora em suspenso por determinação superior…).
Em democracia ninguém pode estar, ou achar-se, além da crítica, nem o PM nem o PR, nem obviamente Passos Coelho, esta sindicabilidade absoluta e constante é nuclear dos regimes livres!
E o grau máximo de alienação, por pior e mais exótico, é a estranha convicção de Costa de que de alguma forma, na universidade de verão do PSD, se poderia louvar o seu desempenho e omitir as suas responsabilidades e branqueamentos, e que entende ser “simples” maledicência, ou do PR, que tendo-se feito eleger na sequência de prolongados programas de crítica política semanal onde perorou sobre todos e cada um dos políticos portugueses, que entenda, agora, que sobre ele ninguém possa fazer considerações relativamente ao estilo e substância da sua actuação só porque assumiu novas funções…
Ou seja, a tal lei da rolha, outra vez, era só o que nos faltava…
Advogado na norma8advogados
pf@norma8.pt
Escreve à quinta-feira, sem adopção das regras do acordo ortográfico de 1990