Como já escrevi, o Benfica enfraqueceu-se no defeso, o Porto fortaleceu-se e o Sporting foi quem mais e melhor comprou.
O Benfica perdeu quase toda a defesa, guarda-redes incluído, tendo comprado um jovem guardião de 18 anos (a quem entregou, imagine-se, a camisola nº 1) e um defesa direito que nunca jogou na equipa principal do Barcelona. É poucochinho…
O Porto, também sem dinheiro para aventuras, fez regressar a casa três jogadores em cujo valor não acreditou no passado: Ricardo Pereira, Aboubakar e Marega. Mas reforçou-se mesmo. Ou seja: conseguiu fortalecer-se com a matéria-prima que tinha antes ‘desprezado’…
O Sporting fez das tripas coração e gastou muito dinheiro – mas gastou-o melhor do que há um ano. Seis novos jogadores entraram diretamente no onze: três defesas (Piscini, Mathieu e Coentrão), dois médios (Battaglia e Bruno Fernandes) e um avançado (Acuña). Mais de metade da equipa!
De todos os jogadores que o Sporting comprou, um distinguiu-se dos outros. Não pela exuberância, pelo mediatismo ou pela espetacularidade; pelo contrário, o jogador a que me refiro é discreto, recatado e humilde.
Falo de Bruno Fernandes, que só numa coisa é espetacular: nos golos que marca em soberbos pontapés de longe. Mas mesmo isso é feito aparentemente sem esforço, como se rematar assim, com tanta força e colocação, fosse uma coisa simples.
Bruno Fernandes faz tudo bem feito: posiciona-se bem, domina bem a bola, tem uma visão de jogo global, faz passes de rutura com grande facilidade, finta bem e remata superiormente. Não aparenta ter pontos fracos. Foi a grande revelação deste início de época, não só do Sporting mas do futebol português.
Curiosamente, foi chamado à Seleção para substituir um jogador que também se revelou recentemente, embora já jogasse há muito ao mais alto nível: Pizzi. Mas Bruno será melhor do que Pizzi. Vai ser um médio de nível mundial. Salvo algum percalço, alguma lesão – embora seja um daqueles jogadores que sabem proteger-se -, será um caso muito sério no mundo futebolístico.
Bruno Fernandes é um daqueles jogadores que não enganam. Desde o primeiro jogo percebeu-se que estava ali um craque. Pela forma como se movimenta, pela confiança que revela, pelo modo como recebe e se livra da bola. Pode até jogar mal num jogo ou noutro. Mas mesmo nesses não fica em causa a sua categoria – ao contrário de outros que fazem de vez em quando grandes jogos mas que nunca deixarão de ser futebolistas medianos.
A chamada de Bruno Fernandes à Seleção nacional e os jogos da Champions vão colocá-lo nos radares dos tubarões do futebol europeu. E dificilmente deixará de ter clubes interessados na sua compra daqui a um ano. O Sporting poderá então fazer um grande encaixe financeiro. Mas perderá um jogador de génio.