O novo diretor de recursos humanos da Autoeuropa, Jürgen Dorn, vai ser um dos novos rostos a liderar os encontros com os sindicatos e depois com a Comissão de Trabalhadores. O responsável assumiu funções no passado dia 1 de agosto e tem pela frente a missão de acabar com a crise laboral sem precedentes vivida na fábrica de Palmela. Contactada pelo SOL, fonte da empresa desvaloriza a mudança de cadeiras nesta altura. «Nunca tivemos um diretor de recursos humanos português e este assumiu funções porque o anterior acabou o contrato», revelou.
Mas a solução para resolver o braço-de-ferro entre administração da Autoeuropa e os trabalhadores não será encontrada antes da eleição da nova Comissão de Trabalhadores (CT) da fábrica de Palmela que está agendada para o dia 3 de outubro. Isto porque a administração só aceita negociar as mudanças dos horários de trabalho com esta estrutura, tal como aconteceu em anos anteriores, apurou o SOL. «Houve urgência na marcação das eleições para que o tema volte a ser rapidamente discutido», revelou fonte da empresa.
Até lá vai existir um encontro com os sindicatos que convocaram a greve desta semana – que paralisou a produção de fábrica durante 24 horas – e que está agendado para dia 7 de setembro. Ainda assim, a mesma fonte garante que não vão sair novidades deste encontro. «É uma reunião sem grandes expetativas e que vai servir para ouvir os argumentos dos sindicatos, dos trabalhadores e onde vão estar presentes as eventuais listas que irão concorrer à Comissão de Trabalhadores», salienta.
Mas apesar das expetativas serem fracas do lado da empresa em pôr fim a este conflito no encontro com os sindicatos, do lado do SITE SUL Sul é dada a garantia que «desde que haja diálogo entre as partes é sempre possível chegar a um entendimento e a um acordo».
Guerra de poder
A verdade é que esta paralisação que travou a produção de 400 carros provocou várias acusações. Uma delas foi do antigo dirigente da CT, António Chora, que esteve à frente daquela estrutura durante 20 anos e foi um dos rostos que contribuiu para que a fábrica de Palmela fosse apontado como um dos bons exemplos laborais. No entender de Chora, a greve foi uma «tentativa do PCP pressionar o Governo para algumas cedências noutros lados». Sobre o SITE Sul, defendeu que este sindicato «montou-se em cima de quatro ou cinco populistas. É lamentável porque é um sindicato com história», acrescentou, mostrando-se surpreendido com a primeira greve na empresa (fora de greves gerais): «Estou espantado. Nunca pensei ver tanta verborreia como tenho visto ultimamente, mas o populismo é assim.»
Uma opinião partilhada pela coordenadora das comissões de trabalhadores do Parque Industrial de Palmela, que conta com quase duas dezenas de empresas fornecedoras da fábrica Autoeuropa. Para esta, a paralisação resultou «do desejo de protagonismo dos sindicatos».
A comissão lembrou ainda que «neste complexo industrial, os sindicatos sempre estiveram numa posição de segundo plano em relação às comissões de trabalhadores e a partir do momento em que têm uma oportunidade para ganhar protagonismo o que é colocado ao serviço dos Trabalhadores? Greve», alerta.
Ameaça de deslocalização
O conflito na Autoeuropa começou com a mudança de horários e a necessidade de trabalhar mais um dia, de forma a permitir o aumento da produção, que deverá atingir mais de 200 mil automóveis em 2018. Ou seja, o dobro do registado em 2016, graças à chegada do novo modelo, o SUV T-Roc.
A Comissão de Trabalhadores e a administração da fábrica de Palmela ainda chegaram a um pré-acordo para os novos horários e turnos – que incluía uma compensação financeira de 175 euros acima do valor previsto na legislação, mais um dia de férias, um aumento mínimo de 16% do salário e uma redução de horário semanal para as 38,2 horas – mas a proposta foi rejeitada pela maioria dos trabalhadores , tendo contado apenas com 23,4% de votos favoráveis, num universo de 3472 votantes, o que motivou a demissão da CT.
Para o sindicato que convocou a greve, a proposta em cima da mesa «é gravosa do ponto de vista social, pessoal, familiar. Para que haja um espaço de abertura para o diálogo é imperativo que a administração retire essa imposição de mudança de horário de trabalho».
O diretor-geral da Autoeuropa, Miguel Sanches, ainda acredita num acordo laboral na fábrica mas já veio alertar para os riscos da falta de entendimento, podendo existir a possibilidade de a produção do T-Roc ser, pelo menos parcialmente, deslocalizada. «É um cenário que está em cima da mesa, mas tanto a administração como toda a equipa da Autoeuropa irão fazer o possível para manter toda a produção do carro em Portugal», afirmou Sanches, lembrando ainda que «o T-Roc foi um modelo exclusivamente escolhido para ser produzido na Autoeuropa».