Algures entre Jesus Costa e os viúvos de Passos


O “Guardian” publicou na quinta-feira um artigo de Owen Jones sobre Portugal. A tese de Jones é a de que o governo português tem vindo a provar que há alternativa às políticas de austeridade e que a sua assunção como objetivo político é a única forma de contrariar o definhamento dos partidos socialistas europeus.


Pela relevância do colunista e do jornal onde publica, o artigo motivou inúmeras reações. Uma das mais críticas foi publicada na “Sábado”, em texto de opinião, pelo ex-jornalista desta casa Bruno Faria Lopes. Faria Lopes acusa o artigo de demagogia, irrealismo e erros factuais. A sua argumentação fundamenta-se na ideia de que Jones esquece o contexto, desvalorizando as condições em que a coligação PSD/CDS-PP assumiu o poder em 2011 e os sinais de retoma a partir de 2013, concluindo que a austeridade não é uma vontade, mas a consequência inevitável a que Jones se opõe.

O que me parece mais curioso no artigo britânico é que as medidas que aponta como exemplares são as concessões que o PS fez a PCP, PEV e BE para obter o seu apoio parlamentar. Aumento do salário mínimo, reversão do aumento dos impostos, recuperação dos salários da função pública e reformas para valores anteriores a 2008, reintrodução de quatro feriados, reforço da segurança social para os mais pobres e imposto sobre o património imobiliário acima dos 600 mil euros foram conquistas dos partidos de “extrema-esquerda radical” a que o colunista se refere, na forma citada, sem lhe reconhecer grande relevância no seu texto. Ora, se existe uma forte suspeita de que um PS maioritário não seguiria este trilho, PSD e CDS-PP deixaram sempre claro que lhe eram contrários. A irrelevância a que Jones confina as forças à esquerda do PS revela-se um problema no rigor da sua análise, mas é também nas consequências dessas medidas que a opinião de Faria Lopes patina na maionese, ignorando que os oráculos da austeridade as declaravam criminosas.

O que me parece que um e outro não estão disponíveis para aceitar é que as três forças políticas que, somadas, obtiveram um milhão de votos, representando 18,5% dos cidadãos que manifestaram o seu voto nas últimas legislativas, foram decisivas nos sucessos que são atribuídos a este governo, e fica por provar se a implementação das medidas estruturais que têm vindo a ser rejeitadas pelo PS não elevariam o país a outros patamares de desenvolvimento e soberania.

 

Escreve à segunda-feira


Algures entre Jesus Costa e os viúvos de Passos


O “Guardian” publicou na quinta-feira um artigo de Owen Jones sobre Portugal. A tese de Jones é a de que o governo português tem vindo a provar que há alternativa às políticas de austeridade e que a sua assunção como objetivo político é a única forma de contrariar o definhamento dos partidos socialistas europeus.


Pela relevância do colunista e do jornal onde publica, o artigo motivou inúmeras reações. Uma das mais críticas foi publicada na “Sábado”, em texto de opinião, pelo ex-jornalista desta casa Bruno Faria Lopes. Faria Lopes acusa o artigo de demagogia, irrealismo e erros factuais. A sua argumentação fundamenta-se na ideia de que Jones esquece o contexto, desvalorizando as condições em que a coligação PSD/CDS-PP assumiu o poder em 2011 e os sinais de retoma a partir de 2013, concluindo que a austeridade não é uma vontade, mas a consequência inevitável a que Jones se opõe.

O que me parece mais curioso no artigo britânico é que as medidas que aponta como exemplares são as concessões que o PS fez a PCP, PEV e BE para obter o seu apoio parlamentar. Aumento do salário mínimo, reversão do aumento dos impostos, recuperação dos salários da função pública e reformas para valores anteriores a 2008, reintrodução de quatro feriados, reforço da segurança social para os mais pobres e imposto sobre o património imobiliário acima dos 600 mil euros foram conquistas dos partidos de “extrema-esquerda radical” a que o colunista se refere, na forma citada, sem lhe reconhecer grande relevância no seu texto. Ora, se existe uma forte suspeita de que um PS maioritário não seguiria este trilho, PSD e CDS-PP deixaram sempre claro que lhe eram contrários. A irrelevância a que Jones confina as forças à esquerda do PS revela-se um problema no rigor da sua análise, mas é também nas consequências dessas medidas que a opinião de Faria Lopes patina na maionese, ignorando que os oráculos da austeridade as declaravam criminosas.

O que me parece que um e outro não estão disponíveis para aceitar é que as três forças políticas que, somadas, obtiveram um milhão de votos, representando 18,5% dos cidadãos que manifestaram o seu voto nas últimas legislativas, foram decisivas nos sucessos que são atribuídos a este governo, e fica por provar se a implementação das medidas estruturais que têm vindo a ser rejeitadas pelo PS não elevariam o país a outros patamares de desenvolvimento e soberania.

 

Escreve à segunda-feira