A conversa fatal. O plano de Vara para calar o SOL

A conversa fatal. O plano de Vara para calar o SOL


O diálogo que se segue foi reconstituído pelo SOL a partir da informação recolhida em várias fontes. Mantemos o abundante recurso a palavrões, pois é revelador do tipo de linguagem usado pelos interlocutores.


A conversa ocorreu em 28 de Agosto de 2009, numa altura em que o SOL era visto como um dos principais inimigos do ‘socratismo’. À data, Joaquim Oliveira é presidente da Controlinveste (hoje Global Notícias), grupo de media considerado afeto a José Sócrates, e Armando Vara é vice-presidente do BCP, que fora acionista fundador do SOL. A quando desta conversa, já o jornal tinha sido adquirido por empresários luso-angolanos, depois de uma tentativa frustrada do BCP para o fechar. 

Joaquim Oliveira pergunta a Armando Vara: – Estás ocupado? 

Armando Vara – Estou a conduzir mas podes falar. 

Oliveira – Hoje fiquei chocado com o SOL.

Vara – Com aquele editorial do [José António] Saraiva (1)?

Oliveira – Com o editorial e também com o filho da pu** do Marcelo [Rebelo de Sousa]. 

Vara – Não vi.

Oliveira – Tens que ver aquelas duas páginas do Marcelo [o Blogue de Marcelo Rebelo de Sousa]. Ali, a Manuela Ferreira Leite é elevada à categoria de deusa. E diz que é preciso derrubar o Sócrates. Vigariza a opinião pública… Diz ainda que o Sócrates não queria debates, tinha medo de debates. Fo***-se, que é no dia em que saiu o SOL que os debates estão a ser sorteados… E aquele editorial do Saraiva que é uma coisa dantesca. 

Vara – É obra!

Oliveira – É dantesca e é mentira! O filho da pu** faz editoriais de assobio. 

Vara – Já uma vez te disse que era preciso um jornal que fo**sse estes gajos, que fizesse marcação a estes filhos da pu**… São desonestos intelectualmente, não são sérios. 

Oliveira – Eles metem-se diretamente com o BCP. Dizem que o BCP é o banco do Estado. Que a Ongoing queria tomar o poder na TVI e na SIC, e que ofereceu 50 milhões ao Balsemão… 

Vara (ironicamente) – ‘Coitado do Balsemão’… Dá vontade de rir ver uns filhos da pu** a dizerem ‘coitado do Balsemão’. 

Oliveira – E ‘coitado do Moniz’ e o cara***. 

Vara – Aquilo é a frente contra ti [contra a Controlinveste, dona do DN, JN, TSF, O Jogo]. Os tipos do SOL, que há seis meses atrás faziam os fretes todos sem a gente lhes pedir nenhum [deduz-se que ‘fretes’ ao BCP], foram lá metidos pela Opus Dei ou no tempo em que a Opus Dei dominava o banco… Os gajos começaram a tratar mal o banco a partir do momento em que esta administração dos angolanos foi para lá. Ou já te esqueceste do editorial que o Saraiva escreveu há para aí um ano e meio a dar uma porrada monumental ao Santos Ferreira? Que o BCP parecia um banco do Estado, parecia uma repartição pública… 

Oliveira – Lembro-me disso…O que não dizem é que aquela mer** é de uma offshore e que poderiam ir todos presos… 

Vara – O BCP metia no SOL 500 mil euros por ano, para além da publicidade que lhe fazia. Diretamente para ele [supõe-se Saraiva] iam 500 mil por ano ou 350, era assim uma mer**…(2). O gajo ficou doido porque eu cortei logo aquilo. E o Expresso a mesma mer**. Pelo rodapé de publicidade da primeira página, o Expresso mamava 450 mil por ano… 

Oliveira – Fo**-se! Não queres fazer um contrato desses comigo? Vendo-te os rodapés de todos os jornais.

Vara – Eram 450 mil para cada um, o Expresso e o SOL… 

Oliveira –– Não estou a discutir isso. Estou a discutir as vigarices e já não a desonestidade. Aquilo não é ser desonesto, aquilo é mesmo vigarizar a opinião pública. 

Vara — São uns escroques do pior… 

Oliveira – O desgraçado do Nuno Vasconcellos e do Rafael Mora [sócios da Ongoing], ainda não mexeram uma palha, limitaram-se a estar interessados numa televisão ou noutra… [Nova referência à crónica de Saraiva, que fala no interesse da Ongoing pela TVI e SIC]

Vara – Mas os gajos da Newshold [proprietária do SOL] também estão-se a pôr a jeito… 

Oliveira – Aquela de dizerem que têm 5 milhões em caixa para ir às compras não lembrava nem ao Saddam… Aquilo é o assassinato de uma empresa emergente. O Saraiva diz que não sabe de onde vem o dinheiro da Ongoing, e que esta tem 600 milhões de dívidas. O filho da pu** não diz os ativos, só diz os empréstimos… 

Vara – Ativos, para ele, só têm o Balsemão e os angolanos que têm o dinheiro no SOL, enquanto aguentarem os ordenados megalómanos e a corja que aqueles cabr**s têm lá dentro do SOL… Isto só se resolve com alguém a pô-los a nu. 

Oliveira – Mas não leste tudo. Também tens de ler o José António Lima. 

Vara – Eu não li nada… 

Oliveira – Tens que ler esse cabr**. Politicamente é importante leres.

Vara — Só li o editorial de Saraiva, porque a minha assessoria de imprensa me mandou. Achas que alguma vez compro aquela mer**? Há meses que não leio o SOL. 

Oliveira – Tenho lá uma empresa para permuta, por isso é que leio aquilo. Aquilo é ofensivo…

Vara — Os gajos que compraram o SOL tiveram que meter 5 milhões no BCP, senão não compravam. Por isso é que eles não perdoam. Tiveram que comprar as ações a 0,85 euros, quando as outras compraram a 0,5. E tiveram de pagar 3,8 milhões de dívida, porque nós, o BCP, sem sabermos quem lá estava, não financiámos nem quisemos ser sócios. O banco não podia ter uma participação numa empresa de que não conhecia os sócios. Ninguém sabe quem são os donos daquela empresa. São os serviços secretos angolanos, são os serviços secretos do Saddam, quem é que anda a meter lá dinheiro (3)?

(1) O texto tinha por título Going para onde? e falava dos negócios dessa empresa misteriosa, dirigida por Nuno Vasconcellos e Rafael Mora, que tinha interesses nos media e queria comprar a TVI e controlar a Impresa, de FPB.

(2) JAS e os outros diretores do SOL sempre receberam ordenado, que foi estipulado aquando da fundação do jornal e não foi alterado, e nunca auferiram qualquer remuneração anual adicional.

(3) A família Madaleno assumiu-se depois como acionista maioritária da Newshold, proprietária do SOL, tendo saído em Dezembro de 2015. Hoje, e desde então, o SOL pertence à Newsplex, tendo como acionista único o seu diretor, Mário Ramires.

Felícia Cabrita e Joana Marques Alves