Ao oitavo atentado perpetrado este ano na Europa com recurso ao abalroamento de multidões em áreas movimentadas, Lisboa não esperou mais e avançou no fim de semana com o reforço das barreiras de proteção. Em Belém foram dispostos junto ao Mosteiro dos Jerónimos 50 blocos de cimento. Já na Baixa, começaram a ser instalados pilaretes de metal nos eixos com maior afluência.
Durante o fim de semana, a equipa da autarquia, que ontem pelas 17h terminava os trabalhos no alto da Rua do Carmo, instalou 40 pilaretes, sobretudo ao longo da Rua Augusta, onde já havia floreiras nas extremidades a servir de barreira. Nos próximos dias, explicou ao i um dos elementos da equipa, deverão ser instalados mais 40 pilaretes. São dispostos em linha a cortar a passagem de carros mas, para garantir a circulação de viaturas de emergência, os dois pilaretes colocados no centro da via são um pouco diferentes: podem ser rebaixados com recurso a uma chave própria.
Jorge, técnico da Câmara Municipal de Lisboa que comandava as operações debaixo do sol quente do fim de semana, adiantou ao i que os preparativos para montar as estruturas começaram na sexta-feira e uma das preocupações foi precisamente assegurar a passagem de viaturas de emergência. Já o vereador Manuel Salgado, que confirmou na RTP que o atentado de Barcelona acelerou os planos da autarquia, recusou fazer qualquer esclarecimento ao i.
Na rua, exceto quando os trabalhos estiveram em curso, as barreiras acabaram por passar despercebidas aos turistas. João, vendedor da Rua de Belém que testemunhou a colocação dos blocos durante a manhã, não tinha percebido a meio da tarde para que serviam. “É para sentar os turistas”, comentava um dos fregueses. Perante a explicação, começavam as dúvidas: “Se é para prevenir atentados deveriam ter sido colocados ao longo de toda a rua”, atira João, uma vez que só ficou protegida parte do perímetro do Mosteiro dos Jerónimos, com zonas para passagem de veículos entre os blocos vedadas apenas por barreiras metálicas.
Bruno, brasileiro que se mudou com a mulher e as filhas há três meses para Portugal, começa por admitir ter pensado que os blocos de cimento eram bancos. Sentem-se seguros em Portugal, sobretudo porque viviam no Rio de Janeiro. E se a medida, mesmo discreta, é bem-vinda, Aline não deixa de reparar noutro pormenor: “Se é para proteger os peões, os blocos de cimento não deviam estar junto à estrada?”, pergunta. Isto porque as barreiras foram colocadas entre o passeio e o relvado dos Jerónimos e não entre a estrada e o passeio. Já David e Priscila, ele alemão e ela brasileira, também não tinham reparado na medida de segurança, mas consideram-na positiva. Também se sentem seguros em Lisboa, mas a campainha do receio vai soando. “Quando estivemos no Mercado da Ribeira pensámos que poderia ser um sítio mais complicado se houvesse um atentado”, diz Priscila. “Não deixamos de ir aos sítios, mas procuramos ficar longe das multidões.”
Já na Rua do Carmo, Jorge, da CML, explicaria que as barreiras metálicas deixadas nos Jerónimos são temporárias: serão substituídas por pilaretes rebaixáveis como os instalados na Rua Augusta. Quanto ao local onde foram colocados os blocos, diz que a localização foi debatida e remete esclarecimentos para a autarquia. Esta era uma das questões que o i pretendia colocar ao vereador Manuel Salgado, que se mostrou indisponível, remetendo apenas para o comunicado da câmara, que fala de “reforço da instalação de medidas passivas de segurança na vida pública, tendo em vista melhorar a proteção em zonas com elevada afluência de pessoas”.
Na Rua Augusta, Theresa e Melanie, turistas alemãs, estão sentadas no extremo de uma esplanada, mesmo ao lado da estrada e dos novos pilaretes.
Até metermos conversa, não tinham reparado na barreira nem tinham sentido que a escolha do lugar poderia deixá-las mais vulneráveis. Levantada a lebre, dizem que preferem este tipo de medidas discretas a polícias armados com metralhadoras, que ontem à tarde só se vislumbravam debaixo do arco da Rua Augusta ou no Chiado. “Ver a polícia faz-nos sentir que estamos numa zona perigosa.” Não escolheram visitar Lisboa por ser uma cidade segura, mas porque queriam conhecer. Mas, pensando bem, está lá o medo, no subconsciente. “Quando começámos a falar das férias, acho que pensei nisso. Por exemplo, ir para a Turquia está fora de questão.”