O alerta de Stefan Zweig


Durante anos fiz orelhas moucas sempre que o meu pai me dizia para ler os livros de Stefan Zweig que estavam lá em casa. Em plena década de 90, numa época de paz, à porta do fim da história, sem que se vislumbrasse o que pusesse termo à prosperidade mundial que se vivia, os livros…


Como o próprio refere no seu “O Mundo de Ontem – Recordações De Um Europeu”, a sua vida, desde 1881 até 1942, passou por altos e baixos, perdas e conquistas que consideramos inimagináveis. Nascido em Viena quando o Império Austro-Húngaro ainda dominava o centro-sul da Europa e a sua capital era um dos seus centros culturais, Zweig conheceu o Velho Continente do séc. xix, por onde se viajava sem passaporte e sem que se justificasse para onde se ia, porque se ia e por quanto tempo.

Tudo isso Zweig viu desaparecer com a i Guerra Mundial, a inflação, que veio logo a seguir, e a guerra que irrompeu em 1939 e que ele não viu terminar, em 1945. O mundo pacífico de Zweig, que o próprio pretendia aproveitar para criar arte, tornou–se um tumulto, uma balbúrdia que o obrigou a fugir do seu país e a terminar os seus dias num local onde ele, um cidadão do mundo, não se sentia em casa. 

Li nesta primavera “O Mundo de Ontem”, de Zweig. Pareceu-me propícia a altura para que não me esqueça de que nada é garantido. Nascido num mundo seguro semelhante ao nosso, Zweig tornou-se um apátrida sem lugar e sem referências. Escreveu para nos dizer como era e, fazendo-o, avisou-nos dos riscos de como pode voltar a ser. 

Advogado 
Escreve à quinta-feira