Pelo menos 64 crianças morreram nos últimos cinco dias num hospital no norte do país por falta de oxigénio. A denúncia foi feita por vários profissionais de saúde aos órgãos de comunicação social, afirmando que a empresa privada que vendia botijas de oxigénio deixou de as fornecer devido a dívidas públicas que ascendiam a milhões de rupias.
As autoridades abriram um inquérito ao sucedido, mas negaram que as mortes estivessem ligadas “à falta de oxigénio no hospital”, segundo garantiu o responsável da polícia de Gorakhpur, Anil Kumar.
O hospital Baba Raghav Das, que está a ser investigado, situa–se no distrito de Gorakhpur, estado de Uttar Pradesh, o mais populoso do país, que é governado pelo partido fundamentalista hindu Bharatiya Janata, do primeiro-ministro Narendra Modi.
A oposição exige a demissão do chefe do governo do estado de Uttar Pradesh e do ministro da Saúde do governo da Índia, dirigido por Modi. “Este governo é assassino”, declarou o líder da oposição deste Estado com mais de 200 milhões de habitantes, dos 1326 milhões que compõem a população do país.
Várias centenas de pessoas manifestaram-se na capital, Nova Deli, para exigir que os responsáveis políticos da tragédia sejam punidos.
Por sua vez, as autoridades do estado de Uttar Pradesh decidiram, no final de sábado, suspender a direção do Hospital Universitário Baba Raghav Das , até posterior apuramento dos factos.
As faturas não pagas das botijas de oxigénio converteram-se num foco de tensão nas relações do hospital com o governo local depois de o diretor do centro hospitalar ter acusado as autoridades de se terem recusado a escutar os seus pedidos para obter mais fundos para a unidade de saúde. “Escrevi três cartas”, assegurou o diretor suspenso em declarações, no sábado, à imprensa. O médico afirmou que chegou a fazer esses pedidos, para além de missiva, nas várias conversas em videoconferência que teve com responsáveis do governo estadual do Uttar Pradesh.
Os meios de comunicação social indianos noticiaram que das vítimas, devido à falta de oxigénio no hospital, 34 eram bebés. Para os jornalistas, a responsabilidade das mortes foi maioritariamente devido à falta de oxigénio e este faltava no hospital devido ao não pagamento de dívidas da unidade de saúde aos fornecedores privados. O governo estadual teria sido alertado atempadamente da situação, mas não teria respondido a esses pedidos.
O ministro da Saúde de Uttar Pradesh, Sidharth Nath Singh, ao mesmo tempo que deu um balanço provisório das vítimas mortais, que seriam 64, negou que estes óbitos tivessem que ver com a falta de capacidade para ministrar oxigénio. Mas admitiu que, segundo um comunicado do Ministério da Saúde, 23 crianças morreram na passada segunda-feira quando “a pressão da alimentação de oxigénio baixou”.
O diário “The Hindustan Times” descreveu na sua edição de sábado cenas de pânico no hospital quando se verificou a falta abrupta de oxigénio. “Apesar de terem sido fornecidas 90 grandes botijas de oxigénio na sexta-feira, o hospital ficou sem nada em menos de uma hora”, relatou o jornal – “o que provocou o caos total, com os pais dos doentes a correr para conseguir ajuda, e os médicos e enfermeiros desesperados a tentar manter o oxigénio aos pacientes, até com bombas manuais de respiração”.
Esta unidade hospitalar serve uma população de mais de um milhão de pessoas. Muitos hospitais públicos da Índia encontram-se em situação de rutura. Os doentes estão sujeitos a longas listas de espera para intervenções simples. A crise é tão grande que há doentes que têm de partilhar a cama com outros, segundo garante o jornal espanhol “El Mundo”.