Destinos de férias: Afeganistão, estamos a ganhar?


Há poucas semanas, Trump gritou aos seus generais um “não estamos a ganhar no Afeganistão!” Não se devem fazer guerras sem saber quem é o inimigo…


Há poucas semanas, Trump gritou aos seus generais um “não estamos a ganhar no Afeganistão!” Não se devem fazer guerras sem saber quem é o inimigo…

A Guerra do Afeganistão é a mais longa em que os EUA já participaram. É uma guerra que não venceram e que, não tendo fim à vista, permite pensar que não vencerão. Os EUA, pelo menos os EUA pré-Trump, podiam escolher os inimigos, mas raramente podiam escolher os amigos. Com a queda do Muro de Berlim e a posterior desaparição da URSS, todos queriam ser amigos dos EUA. Os inimigos declarados não tinham natureza estadual. O maior feito da Al–Qaeda não foi o ataque às Torres Gémeas, foi ter conseguido que Bush Jr. decidisse invadir o Afeganistão.

A guerra entre os EUA e o Afeganistão começou, como muitos conflitos, com um equívoco. A administração Bush achou que o Afeganistão era um Estado, um Estado com as características do Estado moderno como surgiu na Europa com o fim do feudalismo. Puro engano. Uma guerra feita aos talibãs, que ocupavam o “Estado” afegão e tinham albergado Osama bin Laden, pode dar origem à derrota dos talibãs, mas implica substituir a sua estrutura de poder por uma que funcione no território afegão. E como os EUA descobriram, e continuam a descobrir, o Estado moderno não é transplantável para o Afeganistão, certamente não num período tão curto como o que já decorreu desde o início da guerra.

Para os speech writers de serviço na Casa Branca, a guerra já teve vários nomes: a vingança pelos ataques da Al–Qaeda aos EUA (o primeiro ataque a território dos EUA, descontado Pearl Harbour…), a coligação internacional contra o terrorismo, a “afeganização” da guerra com a tentativa de treinar e equipar forças armadas afegãs para poupar o sangue e o tesouro dos americanos, a proclamação da vitória (um remake do “mission accomplished” de Bush em 2003 no que respeita ao Iraque e que provou estar um tudo-nada longe da realidade), a redefinição do que seja a vitória, com a redução do efectivo americano…

Tendo Obama reduzido o número de tropas no Afeganistão, Trump quer fazer o contrário, de preferência com a ajuda dos amigos dos americanos que devem pagar, com tropas e orçamento deslocados para o Afeganistão, a taxa pela protecção militar americana, seja na NATO ou na Austrália.

Mesmo com um aumento significativo de tropas ocidentais no Afeganistão e o correspondente aumento do número de baixas e dos custos financeiros, não há garantia de vitória e menos ainda de uma vitória duradoura. O tribalismo, o relevo, o clima, a pobreza, o fundamentalismo religioso, a ausência de Estado efectivo, a porosidade das fronteiras políticas na região, os equilíbrios regionais dinâmicos… tudo isto torna impossível a obtenção de uma vitória militar clássica: a substituição de uma estrutura de poder efectivo (ou dos seus ocupantes) por outra.

Trump, de acordo com a mais recente fuga de informação relativa a uma reunião da sua administração, gritou ao vice- -presidente, aos secretários de Estado e da Defesa e à hierarquia militar um “não estamos a ganhar!”. E assim gritando, desconfia que está a perder. E claro, tem uma solução: demitir o general comandante das operações no Afeganistão, mesmo que todos os participantes na reunião lhe assegurem a excelência do mesmo.

Os contrários atraem-se, mas raramente as soluções simplistas são adequadas aos problemas complexos. Caro leitor, por mais interessante que possa parecer-lhe o pacote de férias que lhe propuseram este Verão para Cabul, pense duas vezes. Ou, pelo menos, pense.

Escreve à sexta-feira, sem adopção das regras do acordo ortográfico de 1990


Destinos de férias: Afeganistão, estamos a ganhar?


Há poucas semanas, Trump gritou aos seus generais um “não estamos a ganhar no Afeganistão!” Não se devem fazer guerras sem saber quem é o inimigo...


Há poucas semanas, Trump gritou aos seus generais um “não estamos a ganhar no Afeganistão!” Não se devem fazer guerras sem saber quem é o inimigo…

A Guerra do Afeganistão é a mais longa em que os EUA já participaram. É uma guerra que não venceram e que, não tendo fim à vista, permite pensar que não vencerão. Os EUA, pelo menos os EUA pré-Trump, podiam escolher os inimigos, mas raramente podiam escolher os amigos. Com a queda do Muro de Berlim e a posterior desaparição da URSS, todos queriam ser amigos dos EUA. Os inimigos declarados não tinham natureza estadual. O maior feito da Al–Qaeda não foi o ataque às Torres Gémeas, foi ter conseguido que Bush Jr. decidisse invadir o Afeganistão.

A guerra entre os EUA e o Afeganistão começou, como muitos conflitos, com um equívoco. A administração Bush achou que o Afeganistão era um Estado, um Estado com as características do Estado moderno como surgiu na Europa com o fim do feudalismo. Puro engano. Uma guerra feita aos talibãs, que ocupavam o “Estado” afegão e tinham albergado Osama bin Laden, pode dar origem à derrota dos talibãs, mas implica substituir a sua estrutura de poder por uma que funcione no território afegão. E como os EUA descobriram, e continuam a descobrir, o Estado moderno não é transplantável para o Afeganistão, certamente não num período tão curto como o que já decorreu desde o início da guerra.

Para os speech writers de serviço na Casa Branca, a guerra já teve vários nomes: a vingança pelos ataques da Al–Qaeda aos EUA (o primeiro ataque a território dos EUA, descontado Pearl Harbour…), a coligação internacional contra o terrorismo, a “afeganização” da guerra com a tentativa de treinar e equipar forças armadas afegãs para poupar o sangue e o tesouro dos americanos, a proclamação da vitória (um remake do “mission accomplished” de Bush em 2003 no que respeita ao Iraque e que provou estar um tudo-nada longe da realidade), a redefinição do que seja a vitória, com a redução do efectivo americano…

Tendo Obama reduzido o número de tropas no Afeganistão, Trump quer fazer o contrário, de preferência com a ajuda dos amigos dos americanos que devem pagar, com tropas e orçamento deslocados para o Afeganistão, a taxa pela protecção militar americana, seja na NATO ou na Austrália.

Mesmo com um aumento significativo de tropas ocidentais no Afeganistão e o correspondente aumento do número de baixas e dos custos financeiros, não há garantia de vitória e menos ainda de uma vitória duradoura. O tribalismo, o relevo, o clima, a pobreza, o fundamentalismo religioso, a ausência de Estado efectivo, a porosidade das fronteiras políticas na região, os equilíbrios regionais dinâmicos… tudo isto torna impossível a obtenção de uma vitória militar clássica: a substituição de uma estrutura de poder efectivo (ou dos seus ocupantes) por outra.

Trump, de acordo com a mais recente fuga de informação relativa a uma reunião da sua administração, gritou ao vice- -presidente, aos secretários de Estado e da Defesa e à hierarquia militar um “não estamos a ganhar!”. E assim gritando, desconfia que está a perder. E claro, tem uma solução: demitir o general comandante das operações no Afeganistão, mesmo que todos os participantes na reunião lhe assegurem a excelência do mesmo.

Os contrários atraem-se, mas raramente as soluções simplistas são adequadas aos problemas complexos. Caro leitor, por mais interessante que possa parecer-lhe o pacote de férias que lhe propuseram este Verão para Cabul, pense duas vezes. Ou, pelo menos, pense.

Escreve à sexta-feira, sem adopção das regras do acordo ortográfico de 1990