Estou de férias e nado. Ensino o meu filho a fazer o mesmo no meio de ondas pejadas de espuma e de areia. Explico-lhe depois que a melhor forma de nadar sem por isso fazer nada é simplesmente boiar. Pernas e braços abertos, peito para cima, olhos postos no céu com a cabeça bem puxada para trás. Dito assim, é imenso.
E se nesse nada sentires a água passar por baixo de ti e ouvires o ruído que o mar faz quando os ouvidos ficam à tona de água, em vez de flutuar parece que voas. Fecha os olhos e finge que não estás aí. Não estás aqui onde eu estou neste momento. Vês? Eu abro agora os olhos e vejo-me rodeado de céu e mar azul; apenas o meu fato de banho é de outra cor, encarnado, para destoar ou marcar a diferença.
Um pequeno sobressalto, um braço que se esquiva, uma perna que desce, endireita-te, abre os olhos e não engulas o pirolito que te entrou quando abriste a boca. Nada assim como quem nada faz, dá às pernas, olha em volta, sorri-me que estou aqui, mesmo ao teu lado.
Olha-me. Nunca me irei embora; mesmo quando já cá não estiver, basta-te abrir pernas e braços, pôr o peito para cima e fechar os olhos, dessa vez fecha os olhos, para me veres onde estou: aí dentro. Quando essa cabeça quiser pensar em nada, que serei eu dentro de ti, fecha os olhos. Nós os dois aqui, um ao lado do outro, a boiar no mar calmo de olhos postos no céu imenso.
Neste sítio, o tempo para.
Advogado
Escreve à quinta-feira