Estamos a 13 dias das eleições em Angola, em que o grande atrativo é o facto de José Eduardo dos Santos não se recandidatar. Depois de 38 anos de poder, “o mais velho” passa o testemunho num ambiente de grande expetativa. Ao longo de todos estes anos, mas em particular nos últimos 15 (desde que terminou a guerra civil), muito se especulou sobre a estabilidade interna angolana. Há cerca de 17 anos que visito aquele país e ouvi de tudo em relação ao futuro de Angola.
Pois bem, nenhuma das profecias se concretizou e, daqui a 13 dias, José Eduardo dos Santos abandona formalmente a liderança de um país cheio de contrastes, clivagens, desigualdades e injustiças. Não me compete nem tenho o intuito de fazer juízos de valor sobre os 38 anos de “dinastia” Santos. O meu maior interesse e curiosidade é perceber como se vai comportar nas urnas um país onde a liderança nunca foi questionada por uma larga maioria dos angolanos. Como se vai comportar o eleitor angolano perante o adeus do elo de ligação e harmonia entre as diferentes elites angolanas?
Esta é, para mim, a maior incógnita, e confesso que estou preparado para surpresas. Porquê?
Dos Santos encetou diversas tentativas para a sua sucessão e a última aposta está longe de ser pacífica. João Lourenço não é consensual entre a poderosa máquina partidária e a elite angolana. E não é por acaso que a escolha seja o antigo ministro da Defesa. Este fenómeno permitiu aos principais partidos da oposição (UNITA e CASA-CE) a pesca à linha nas fileiras do MPLA, assim como alguma dispersão de votos por outros pequenos partidos.
Um partido que se cimentou na sociedade ao longo de 38 anos de poder não perde força de um dia para o outro e, por isso, não arrisco nenhum resultado que não seja a vitória do MPLA. Mas aguardo algumas surpresas no que toca ao número de votos que conseguirá.
A confirmar esta minha suspeição estão as projeções da sondagem que o Instituto Piaget e o Instituto Sol Nascente anunciaram e que veio baralhar as contas de muita gente. Elas apontam para uns surpreendentes 36% para o MPLA, 28% para a CASA-CE e 22% para a UNITA. Acresce que o número de indecisos se cifra nos 11% e que a margem de erro é de 4%.
Em termos práticos e a confirmarem-se estas projeções, o cenário resultante, aposto, não foi equacionado por ninguém e, na prática, assistiríamos a um fenómeno idêntico ao registado em Portugal: um partido vencedor, mas minoritário no parlamento.
Aceitam-se apostas mas, para mim, uma coisa é certa: a confirmarem-se estas projeções, Angola não será a mesma no dia 24 de agosto.
Este não era certamente o cenário projetado nem por Eduardo dos Santos nem pelo MPLA e, repito, ou as projeções estão totalmente erradas ou o depois do adeus de “Zedu” não será o idealizado.
E das duas, uma: ou, efetivamente, Angola (leia-se os seus políticos e militares) dá um sinal claro de maturidade política e democrática, ou o país poderá mergulhar no abismo. Tenho esperança (e alguma convicção) que uma sociedade estagnada durante anos pelo colonialismo e, mais tarde, pela guerra civil se desenvolveu o suficiente nestes 15 anos de paz e permitiu a formação de novos quadros que têm consciência e a determinação de não deixar cair o país num pântano.
Entre 2000 e 2005, tive o privilégio de lecionar muitos cidadãos angolanos e congratulei-me por ouvi-los dizer que queriam voltar à sua pátria e ajudar na reconstrução do país. A minha esperança reside nalguns deles – chegou a vossa hora.
Escreve à quinta-feira