As listas das candidaturas às autárquicas de 1 de outubro têm de ser entregues hoje. É o início de um processo complexo – as listas podem ser contestadas, etc. – até à campanha eleitoral que começa a 19 de setembro. Começa apenas oficialmente já que, na realidade, neste momento, todos os candidatos e pré- -candidatos já estão na rua, na freguesia, no concelho, a lutar pela vida política.
Qual o impacto que as autárquicas podem ter na situação política? Depende.
A repetição de um mau resultado do PSD vai fragilizar ainda mais a liderança de Pedro Passos Coelho, que tem dado a cara pelas candidaturas autárquicas do PSD e da coligação PSD/CDS.
O processo autárquico não está a correr bem a Passos Coelho. Ao ter colocado os “ovos todos” na possibilidade de uma nova candidatura de Santana Lopes à Câmara de Lisboa, abriu o flanco para um resultado complicado ao acabar por optar pela sua vice-presidente Teresa Leal Coelho como solução de recurso.
Apesar de não existir coligação de esquerda na capital e de Fernando Medina não ser o cabeça-de-lista nas últimas eleições autárquicas (era António Costa), o PS parte com a vantagem de uma maioria absoluta.
No Porto, a zanga entre Rui Moreira e o PS, que acabam a concorrer em listas separadas, poderia abrir uma janela de oportunidade aos sociais-democratas, que perderam a Câmara do Porto nas últimas eleições para Moreira, quando Luís Filipe Menezes, antigo presidente da Câmara de Gaia, foi o candidato social-democrata.
Passos não se dá como derrotado. Ainda na semana passada, na famosa festa do Chão da Lagoa, na ilha da Madeira, disse que o PSD tem de “pôr todas as forças no terreno”.
Mas qual será a força dessas forças? Uma boa parte do partido conspira para o pós-autárquicas, convicto de que um mau resultado forçará uma mudança na liderança a curto prazo. Não é certo, neste contexto, que todas as “forças” de que dispõe o PSD estejam dispostas a dar o tudo-por-tudo no terreno.
Ao contrário do Bloco de Esquerda, que teve apenas 120 982 votos nas eleições para câmaras municipais (o equivalente a 2,42% do total dos votos para câmaras), o PCP é um partido com força autárquica. Detém as presidências de 34 câmaras municipais, que conseguiu com os 11,06% dos votos nas eleições para os executivos municipais. O score autárquico do PCP é superior ao que teve nas últimas legislativas, onde conseguiu 8,25% dos votos, quase dois pontos abaixo de Bloco de Esquerda.
É evidente que, nestas eleições, o PCP também parte com uma perspetiva de reforço nacional que lhe permita aumentar a sua capacidade de influência dentro da solução de governo. Isso mesmo tem dito Jerónimo de Sousa nas sucessivas apresentações de candidatos pelo país fora.
Na semana passada, em Vila Franca de Xira, Jerónimo pediu uma grande votação nos comunistas a 1 de outubro “para se darem novos, mais substanciais e firmes passos na solução dos problemas de fundo do país”. Para o líder comunista, as autárquicas são um teste aos votos que o PCP perdeu – ou ganhou – com o apoio ao governo. Daí que diariamente apresente aos eleitores comunistas o que ganharam com a constituição da geringonça lembrando, por exemplo, o aumento das pensões de reforma e as políticas de direita que foram afastadas com esta solução de governo.
O CDS, tal como o Bloco de Esquerda, não risca grande coisa em termos autárquicos. Na maior parte dos casos vai coligado com o PSD. Uma das grandes exceções é Lisboa, onde a líder do partido, Assunção Cristas, decidiu ir a votos, numa decisão temerária.
Mas alguma sorte protege alguns audazes e as dificuldades por que está a passar o PSD podem fazer com que Cristas veja o seu papel de líder reforçado se o resultado em Lisboa for razoável para os (baixos) parâmetros centristas. A verdade é que Cristas tem dado o tudo- -por-tudo na campanha de Lisboa, tendo sido a primeira candidata a ir para o terreno, tirando o caso do PS que, sendo o seu candidato presidente da câmara, passou o último ano e meio no terreno.
Em ano de autárquicas, as rentrées partidárias, já se sabe, vão ser dedicadas “ao tema”. É o PSD o primeiro a abrir as hostilidades, já no próximo domingo, na famosa festa do Pontal, que decorre no calçadão de Quarteira, com a presença do líder do partido. O Bloco de Esquerda tem o seu Fórum Socialismo nos dias 25, 26 e 27 de agosto, no Liceu Camões, em Lisboa. Catarina Martins encerra o Fórum a 27, mas na véspera, dia 26, António Costa participará na festa de verão do PS, em Faro.
Além do calçadão de Quarteira, o PSD organiza todos os anos outra rentrée: é a chamada Universidade de Verão, que decorre entre 28 de agosto e 3 de setembro.
A segunda rentrée do PSD coincide com a rentrée mais antiga de todas: a Festa do Avante!, que decorre a 1, 2 e 3 de setembro, na Quinta da Atalaia.