Nem Mbappé, nem Cristiano Ronaldo ou muito menos Bale. É mesmo Neymar o protagonista da maior transferência do verão – e, de longe, a maior da história do futebol: o avançado brasileiro vai trocar o Barcelona pelo Paris Saint-Germain, com os franceses a deixar os 222 milhões de euros da cláusula de rescisão nos cofres dos Blaugrana. Ou algo do género, pois de acordo com o jornal espanhol “El Confidencial”, o PSG prefere pagar os 222 milhões ao próprio Neymar do que de forma direta ao Barcelona. Tudo devido à taxa de 21% de IVA que se acrescentaria ao valor da transferência, como exigem as leis fiscais espanholas, e que iria obrigar os parisienses a pagar, na verdade, uns ainda mais exorbitantes 329 milhões de euros!
Desde outubro do ano passado, porém, os jogadores a atuar em Espanha estão isentos de pagar, no que toca a cláusulas de rescisão, os 58% correspondentes aos impostos sobre o rendimento. Por essa razão, se for o jogador a pagar a cláusula de rescisão ao Barça e assim a ficar com o passe na mão – e livre para assinar por outro clube –, tanto Neymar como o PSG ficarão a ganhar.
Enquanto pensava nestas e noutras questões, Neymar viajou na tarde de ontem para o Porto, acompanhado do pai e do seu representante, Wagner Ribeiro. A viagem, num avião privado, aconteceu a meio da tarde, já depois de muito se ter passado durante o dia. O internacional brasileiro encontrou-se na cidade portuense com Antero Henrique, apontado pela Imprensa espanhola como o cérebro por detrás de toda a operação – o antigo administrador do FC Porto é, desde junho, diretor-geral do PSG –, e terá realizado os indispensáveis exames médicos no Hospital dos Lusíadas, segundo revelou o jornal “O JOGO”. Por volta das 19h30, regressou ao Aeroporto Sá Carneiro e deixou a cidade Invicta, presumivelmente de volta a Barcelona.
Tudo à espera do mesmo A novela já tinha vários dias – semanas até – mas foi ontem que conheceu os avanços mais significativos rumo ao desfecho final. E tudo começou logo nas primeiras horas da manhã, com a Imprensa espanhola a contar que o avançado já não havia treinado com os colegas do Barcelona. Pouco depois, o próprio clube catalão tornou público o desejo expresso por Neymar em sair, mas aproveitou para deixar um aviso: o adeus só será efetivado quando alguém bater, de facto, a cláusula de rescisão – os tais 222 milhões.
Nada que fizesse perigar o negócio. Ainda no aeroporto El Plat, em Barcelona, o empresário de Neymar, Wagner Ribeiro, assumiu ter luz verde do jogador para negociar com o PSG e garantiu mesmo que o clube parisiense iria pagar a cláusula “nas próximas horas”, apontando a apresentação do internacional brasileiro já com as cores do PSG “até ao fim da semana”. Até à hora de fecho desta edição, todavia, nenhuma novidade surgiu, mantendo-se as previsões avançadas pela Imprensa francesa: Neymar deverá chegar a Paris durante esta quinta-feira, assinando e sendo apresentado no dia seguinte.
Seja em que dia for, uma coisa é certa: o brasileiro já não vai voltar a jogar pelo Barcelona. Foi também essa a razão pela qual Neymar compareceu ontem de manhã no centro de treinos dos Blaugrana: para se despedir dos colegas – entre os quais o português Nélson Semedo, com quem protagonizou uma discussão que correu mundo na última sexta-feira, durante um treino. Não tardaram a surgir, nas redes sociais, mensagens de despedida emocionadas dos jogadores do Barcelona, com destaque para Messi, que com Neymar e Suárez formou um trio praticamente imparável durante quatro temporadas. “Foi um prazer enorme partilhar estes anos todos contigo, amigo Neymar. Desejo-te muita sorte nesta nova etapa da tua vida. tkm [abreviatura de ‘te quiero mucho’]”, escreveu a Pulga. A resposta de Neymar foi sintomática: “Obrigado, irmão… vou ter muitas saudades tuas, amigo.”
Fair-play financeiro não assusta No PSG, Neymar vai encontrar mais quatro internacionais brasileiros, entre os quais Dani Alves, com quem partilhou balneário no Barça durante três temporadas e que também acaba de chegar ao gigante de Paris.
Há, contudo, uma nuvem a ensombrar todo o processo: o fair-play financeiro. Que motivou, inclusive, uma garantia do presidente da Liga espanhola: depois de ter admitido recorrer à UEFA, Javier Tebas veio agora dizer que não aceitará o dinheiro pago pela transferência de Neymar. “Não aceitaremos o dinheiro de um clube como o PSG que, sem pertencer à nossa Liga, quer adquirir um direito da nossa organização e, acima de tudo, quando esse clube está a infringir leis e normas da UEFA, da União Europeia e da concorrência. Seria um contrassenso aceitar esse pagamento. É um clube que vive num doping financeiro e tira vantagem disso relativamente aos outros clubes, aumenta os seus rendimentos através de contratos de patrocínio no Catar difíceis de explicar. As contas do PSG dizem que têm mais receitas comerciais do que Real Madrid ou Manchester United, o que significa que o seu valor enquanto marca é superior ao destes dois clubes. E isso é algo impossível. A denúncia está pronta”, disparou Tebas em entrevista ao jornal “AS”, atacando também… Neymar: “É um grandíssimo jogador, mas acho que o nosso campeonato está acima dele. Com todo o respeito que tenho por ele, preocupava-me mais se estivéssemos a falar do Messi ou do Cristiano Ronaldo.”
As regras do fair-play financeiro, recorde-se, obriga os clubes a ter mais receitas do que despesas. Tudo indica que, nos próximos dias, o PSG vá conseguir mais um acordo de patrocínio que lhe garantirá cerca de 110 milhões de euros – um valor ainda assim bastante aquém dos 222 para contratar Neymar. É preciso lembrar também que o clube parisiense já foi sancionado pela UEFA em 2014, precisamente por esta razão: então, o PSG foi condenado ao pagamento de uma multa de 60 milhões de euros (a pagar em três anos) e ficou limitado a contratar apenas por valores também até aos 60 milhões. Igual cenário afigura-se agora como bastante provável.