Lancei o meu segundo livro e isso não é a coisa mais incrível do mundo. Tivesse eu erradicado o cancro e isso sim, seria caso para espanto e louvor. Mas o livro, não. É um livro e, por isso, tem o valor que as pessoas lhe quiserem dar. Mas mesmo assim, mesmo sabendo que esta não é a novidade do ano, não posso deixar de vos contar que o “Cancro com Humor 2 – É possível ser feliz no caos” já nasceu. O parto foi difícil, mas a mãe está bem.
Sinto-me em pulgas. Estou numa ansiedade sem precedentes e histérica que até faz impressão. É só um livro, eu sei, mas deu cabo de mim escrevê-lo. Por isso, o mínimo que posso fazer é partilhar convosco esta fase – esta fase de formigueiro e cãibras constantes na mão.
Estou feliz sobretudo porque sempre tive dificuldade em terminar uma tarefa (sou daquelas aflitivas pessoas que largam a loiça que estão a lavar para começar a fazer a cama), porque só o facto de ter terminado este projeto é motivo para festejar e para deixar os meus pais aliviados. Se o livro vai ser lido, apreciado? Não sei. Mas terminei o meu TPC e ninguém me tira esse gostinho.
A escrita é uma extensão de mim. Acrescenta-me. Às vezes, é só com a escrita que entendo aquilo que sinto. Que entendo o barulho que vive dentro da minha cabeça. Escrevo primeiro, percebo depois. Mas apesar de amar escrever e de me imaginar uma vida inteira a fazê-lo, este livro fez-se com muito sofrimento à mistura. Senti tudo outra vez. Em alguns momentos, percebi que não estava assim tão bem resolvida. Tive saudades. Zanguei-me. Ri-me sozinha. Meti-me na cama e chorei outra vez. Era o meu amor todo ali, eram os meus medos a sair das gavetas. Era a vulnerabilidade em bruto.
“Cancro com Humor 2” é um livro de crónicas que se lê num trago e com o coração acelerado, porque todas as emoções estão ali expostas, sem filtros, e é também um livro egoísta. Escrevi-o da forma que quis, com a minha verdade e sem pensar se o público concordaria, ou não, comigo. Não agradará a todos, de certeza absoluta mas, sinceramente, isso não me interessa para nada. Só fiz este livro para provar (a mim mesma) que sobrevivi a isto a rir.
Sobrevivi a isto a rir. O cancro deu-me e tirou-me tantas coisas, tantas pessoas, e eu sobrevivi ficando ainda inteira.
Ainda estou inteira.
“Não gosto de ter defesas. Nem sei bem o que significa isto de ter defesas.
Não coloco um capacete nas minhas emoções e vontades.
Não dou só metade e, a outra parte, se a mereceres, vens cá buscar depois. Dou tudo. Assim, toma. Eu sou isto. Estas são as minhas falhas, aqui está a lista dos meus piores defeitos, não te esqueças dos meus medos, eis o meu passado e, se me tiver esquecido de alguma coisa, envio mensagem depois a contar.
Espero que saibas que estou longe de ser perfeita: falo demais, sou insuportável quando tenho fome, misturo conversas e salto temas, choro com facilidade, sou instável, bato contra os móveis e os telemóveis, nas minhas mãos, têm sempre poucos dias de vida. Preciso que saibas que a maioria das vezes não sei o que ando aqui a fazer. Que falo de cancro com a mesma facilidade com que falo de amor. Que adoro palavras, escrevê-las e ouvi-las. E que amo com tudo, mesmo que isso faça de mim irresponsável, porque nunca amei de outra forma. Gosto de pessoas. Entrego-me. As melhores aparecem a todos nós, mas confesso-te que só as mantenho quando elas são boas. E excluo-as, com a mesma entrega, quando elas não o são. Tão simples como fazer chá.”
Excerto do livro “Cancro com Humor 2 – É possível ser feliz no caos”
Obrigada a todos os que me ajudaram e entusiasmaram a continuar. Obrigada aqui ao jornal i por ter sido o primeiro a dar-me a mão. Quando for grande, quero ser escritora. Até lá, vou tentando. Vou fazendo.
P.S. – Este livro contou com o apoio e a amizade da OncoDNA.
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