Esta semana, o i noticiou que o número de mortos em Pedrógão Grande pode ultrapassar os 80, uma contagem das vítimas muito superior à apresentada pelo governo. Perante o facto, Costa, com a displicência que lhe é habitual, considerou o assunto encerrado para depois se corrigir, dizendo que o governo não interfere.
O primeiro-ministro esquece-se de um pormenor: em Pedrógão não se discutem os números do défice nem o montante real da dívida pública. Falamos de vidas e do respeito que devemos ter pelos mortos, pelas pessoas que morreram porque o Estado não as protegeu. Mentir no défice é uma coisa; já chutar para canto quando se trata de vidas humanas é uma imoralidade. Confirmando-se o encobrimento do número de vítimas, e mais importante que isso, do nome das vítimas, Costa não é digno sequer de que alguém o cumprimente na rua, menos ainda de ser primeiro-ministro.
Há mínimos que não são toleráveis num Estado de direito e que a nossa dignidade não pode aceitar. Temos de saber se houve portugueses que morreram e se o governo está a fingir que não existiram. Não, não foi no Ultramar, no tempo da ditadura, mas em Pedrógão, no centro do país, em plena democracia. É um assunto que não se apaga com um pano sujo apenas para que não se questionem políticas que satisfazem a maioria. Se assim fosse, o socialismo, enquanto lhe é possível distribuir benesses pelos que o apoiam, estaria a destruir a solidariedade natural que une o país. Uma ferida que levaria anos a ser reparada.
Advogado, Escreve à quinta-feira