Louro, magro e longilíneo, o britânico Ennis vai rodopiando sobre si lentamente. Ora olha para os comboios, ora olha para a entrada da estação de Santa Apolónia. Não está confuso nem à procura de nada, está só a observar a vida deste que é um dos locais de eleição dos turistas que vêm a Lisboa.
Julgando pela aparência física, abordamo-lo com um “hi!”, na certeza de que se trata de um estrangeiro. Do alto dos seus quase dois metros, devolve-
-nos o “hi!”.
É inglês, de Stafford, mesmo no centro de Inglaterra, na zona de Birmingham, estuda Química em Newcastle, no norte da ilha, tem 20 anos e decidiu viajar sozinho por Portugal. Porquê sozinho? “Não tinha companhia, estava tudo a trabalhar”, responde, acrescentando que “até é melhor assim”. “Estou com os meus amigos durante todo o ano e até é bom estar sozinho durante algumas semanas”, explica.
O estudante de Química vai ficar por Portugal durante três semanas, “são 19 dias”, especifica. Até agora, está a ser “incrível”. “Vou fazer todo o país, começar no sul e acabar no norte. Até agora estive em Faro, ‘Légos’ [depreendemos que se trate de Lagos], ‘Albufra’ [provavelmente Albufeira], Lisboa e, depois, Coimbra e Porto”, conta.
Primeiro começa por afirmar que está a “adorar” Lisboa, mas acaba a dizer que, afinal, não ficou assim tão fã: “Estou a adorar Lisboa. É a primeira vez que venho cá e, infelizmente, este já é o meu último dia aqui. Também estive em Sintra, se calhar até gostei mais de Sintra. Lisboa tem muita vida, até demais… Não sou assim tão fã de grandes cidades.”
Durante a viagem desenrasca-se com o seu inglês, mas às vezes não chega. “Já aprendi quatro ou cinco coisas em português: ‘obrigado’, ‘bom dia’, ‘olá’ e ‘boa noite’”, diz-nos num português carregado de sotaque britânico. “Depois tento completar as conversas com bocados em espanhol, mas já descobri que os portugueses não gostam muito disso. Eu sei que os portugueses não falam espanhol, mas é só para me fazer entender…”, justifica-se a rir.
No futuro, Ennis gostava mesmo era de ser professor. “Gostava muito de ser professor no estrangeiro durante um ano ou assim. Ensinar química ou até inglês nas horas vagas”, confessa. E que tal voltar a Portugal como professor? “Estava a pensar ir mais para a América do Sul, até porque os portugueses já são muito bons no inglês.”
“FON FOOON!”, ouve-se na estação. Podia ser o som do fim da nossa conversa, mas é só a onomatopeia do apito de um dos comboios, que está prestes a partir.